Por Dalva Teodorescu
Parece cômico o fato de Fernandes Rodrigues, colunista da Folha, chamar atenção para o congresso chapa branca que estaria se formando para o próximo governo.
Me pergunto se esses jornalistas têm um mínimo de consciência de que praticam diariamente um jornalismo chapa branquíssima quando escrevem suas colunas. Me pergunto se eles têm a mínima consciência do mal que fazem para sua reputação profissão praticando tal jornalismo.
Jornalismo não é ciência, mas para cientistas que trabalham com dados sociais é constrangedor ver o engajamento dos donos de jornais, dos jornalistas e dos chamados comentaristas políticos, na campanha tucana. O envolvimento é muito maior do que aquele desempenhado pela militância (será que ela existe?) e pelos próprios candidatos da oposição.
Aliás, durante anos a velha mídia se vangloriou de ser a única oposição ao governo Lula.
Cegamente oposição.
Num país onde o sindicato do jornalismo está na mão dos donos dos jornais, os jornalistas não têm a mínima autonomia de opinião. E parece não estarem interessados em reivindicar nada. Ao contrário viram militantes das ideias defendidas pelos patrões da velha mídia.
Veja no que se tornou a colunista Dora Kramer. É obrigada diariamente a escrever contra a campanha da candidata do governo Dilma Rousseff. Não tem o que dizer todos os dias. A colunista, em pleno boom da campanha, não escreve mais aos sábados. Já não escrevia na segunda e, mesmo assim, a gente não precisa mais ler a sua coluna. Os títulos e os destaques já dizem tudo.
O jornal virou uma coisa morna, sem sal, previsível.
A Velha mídia tem que se render à evidência de que não agrada à maioria que vota na continuidade: o povo que o Estadão tanto detesta, sistematicamente o chama de terceiro-mundista, mas também os banqueiros e empresários que tanto financiaram a campanha de Dilma.
Para quem se dirige hoje a velha mídia? Com quem ela se comunica? A qual interesses servem?
Nesses últimos anos os políticos da oposição, hoje candidatos, correram sérios riscos dialogando somente com os patrões da mídia e deixando de lado setores expressivos da população. Pensavam que, como no passado, isso era suficiente para ganhar eleição. Isso eu já tinha profetizado há mais de um ano.
Agora vejo que a mídia também ficou dialogando somente com os políticos da oposição e perdeu sua hegemonia de formadora de opinião. Caso contrário a Dilma não estaria disparada na frente do tucano José Serra.
O povo, mas também os empresários e os banqueiros, não escutam as calúnias de alguns (revista Veja), a manipulação da informação de outros (a maneira como Estadão anunciou o arquivo de denúncia contra Dilma pelo TSE e o tempo que o velhote JN dedica aos requentados fornecidos pela oposição) e as manchetes apelativas e até mesmo preconceituosas de mais outros ( os factoides levantados pela Folha de São Paulo).
Não perceberam os representantes da velha mídia que os tempos mudaram. Não somente porque as informações que destilam hoje em dia passam pelo crivo da Internet. Mas porque a realidade do povo começa a mudar e com ela a sua percepção do que é informação idônea e propaganda sem fundamento, do que é exagerado, falso.
Um fato supostamente envolvendo o PT é exaustivamente triturado, requentado, até perder o gosto. Todos os escândalos atualmente envolvendo os políticos tucanos no RGS são discretamente relatados nas páginas interiores dos jornais escritos (nem pensar em falar disso no rádio e TV).
Se de fato houver derrota da oposição na eleição presidencial ela será, sobretudo, a derrota da mídia.
Porque sem dúvida alguma na cobertura das eleições ela está sendo mais virulenta e manipuladora do que a própria oposição.
Nesse sentido, ela participa da provável derrota da oposição se tivesse sido parcial e crítica de todos os lados. A crítica deve ser vista como uma maneira de fazer progredir. Omitindo as muitas falhas na orientação da campanha tucana ela deixou de prestar grande serviço à oposição.
Beneficiou a situação que além do apoio da maior parte da população brasileira, pode aprimorar todos os dias seu desempenho graças ás críticas que recebem.
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