terça-feira, 25 de outubro de 2011

PiG não é PiG porque denuncie a corrupção.

Do Maravilhoso Conversa Afiada

O sistema político brasileiro por definição é corrupto.

Não mais que o americano, o italiano, o russo ou o mexicano, por exemplo.
Mas, corrupto é.

Nos acima citados sistemas, a Caixa Dois, a sobra de campanha e a sujeição aos interesses dos financiadores são goiabada com queijo.

Uma das formas centrais do sistema político corrupto – como nos acima mencionados – é o acesso à televisão.

Tempo de tevê vale ouro – e voto.

E a manipulação do acesso à tevê é uma das causas do descrédito dos partidos e dos homens públicos nessas grandes democracias.

O noticiário político só faz equiparar a atividade público a reality show de ex-prostitutas.

Outra causa é a notória impunidade.

O sistema judicial torna-se cúmplice e parte de um sistema que se nutre de corrupção.

O financiamento público e uma Ley de Medios podem atenuar a penetração da corrupção no sistema político.

No Brasil, à parte a geneneralizada impunidade – que se acentuará com o fechamento do Conselho Nacional de Justiça pelo Supremo -, há um fenômeno que não se repete em nenhuma das citadas democracias.

É a concentração do PiG (*).

Três famílias – Marinho, Frias e Mesquita (by proxy) – , dominam a tevê, o rádio, o jornal, as revistas, as agências de notícias e portais na internet.

(A família Civita, expulsa da Argentina, no Brasil explora outro ramo de negócio, que não o jornalismo.)

Três famílias – duas em São Paulo e outra no Rio, a Globo, que, porém, trabalha para o IBOPE de São Paulo – dominam o conteúdo da informação e a agenda de debates de um país de 200 milhões de almas, com uma maravilhosa e suprimida diversidade cultural.

O papel central do PiG é derrubar os Governos trabalhistas, onde, apesar de todo o bom-pracismo dos governantes, os negócios empresariais do PiG enfrentam mais obstáculos.

Quando os Neolibelês (**) estiveram no Governo, o PiG sentava-se à mesa do banquete.

O PiG não é golpista porque denuncie a corrupção.

O PiG é golpista porque SÓ denuncia a corrupção dos trabalhistas.

Para o PiG, a massa cheirosa não rouba.

Nem roubou.

O PiG tem parte, tem lado, obedece a uma linha política, como o Ministro Gilmar Dantas (***): está sempre do lado de lá.

As denúncias de corrupção são apenas uma das faces do golpismo.

Outra é a fixação da agenda.

O PiG e o Congresso acabam por discutir só o que o PiG quiser.

O PiG determina a hierarquia: a ponte de 3,5 km sobre o rio Negro não tem menor importância.

Só teria se ficasse comprovado o esmagamento de um bagre na hora de fincar uma estaca.

Aí, sim, seria um Deus nos acuda.

Vamos sublimar, amigo navegante, a criminosa discriminação que o PiG pratica contra os atos dos governos trabalhistas.

Vamos por à parte o excepcional Governo do Nunca Dantes, aprovado por 80% da população.

Ou do Governo de sua sucessora, que segue a mesma trilha.

Vamos à Argentina.
Agora, com a acachapante vitória da Cristina, só agora se sabe que o maior eleitor foi a bonança econômica.
A Argentina bomba !
E aqui se tinha a impressão de que a Argentina era uma pocilga encravada na caverna do Ali Babá.

As atividades do PiG são, pela ordem, deturpar, omitir, mentir.

As denúncias de corrupção do PiG são bem-vidas, porém.

E devem servir de elemento para coibir o malfeito.

O problema é que no PiG se esvaecem como nuvens as denúncias de corrupção do outro lado: as ambulâncias superfaturadas; o Ricardo Sergio, o Preciado, o Paulo Preto, o Daniel Dantas, o Robanel dos Tunganos; a concorrência do metrô de São Paulo; o mensalão de Minas; a empresa de arapongagem do Cerra paga pelo contribuinte paulista; os anões do Orçamento da Assembléia tucana de Sao Paulo.

Tudo isso se lava com água e sabão vai embora pelo ralo.

E a corrupção da empresa privada ?

Os subornadores, os financiadores dos políticos ?

Quem compra os políticos ?

A Madre Superiora ?

Quem ganha todas as concorrências e não perde uma na Justiça ?

Quem são e o que fazem os que a Evita Peron chamava de “oligarcas de mierda ?”

Por que no Brasil não tem empresário ladrão ?

Nem rico na cadeia ?

É por isso que o PiG é golpista.

Porque é cúmplice, beneficiário e arauto dessa máfia do poder, como diz o Mino.

As denúncias de corrupção são a face branda quase pueril do PiG.
Vamos pegar o PiG pelo gancho: vamos fazer uma Ley de Medios.

Paulo Henrique Amorim

(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
(**) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.
(***) Clique aqui para ver como um eminente colonista do Globo se referiu a Ele. E aqui para ver como outra eminente colonista da GloboNews e da CBN se refere a Ele.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Lingerie

Do blog Championchip Chronicles

- Querido?

- Hum?

- Posso falar com você?

- Claro.

- Olha para mim?

- Pronto. Desculpe... Ei, nós vamos sair?

- Não, por quê?

- Então porque você está trocando de roupa?

- Não estou me trocando.

- Então porque você está só de calcinha e sutiã?

- Porque eu quero falar com você.

- Mas você precisava estar sem roupa?

- Sim.

- Você não está doente, está?

- Como assim?

- Você aparece aqui quase sem roupa e dizendo que precisa conversar. É sinal que eu vou ter que apalpar algo. Não é câncer de mama, né? Você sentiu algum caroço?

- Não é nada disso!

- Ok, mas você precisa concorda comigo. Eu apareço na cozinha vestindo cuecas e dizendo que preciso conversar com você. Aposto que você ia pensar na mesma hora que era sobre aquele meu joelho bichado.

- Não. Eu iria achar sexy.

- Oi?

- Sim, eu acharia sexy. Você não me acha sexy com esse lingerie?

- Acho. Essa calcinha fica bem em você. Era isso?

- Não. Eu quero contar uma coisa.

- Diga.

- Eu bati o carro hoje.

- Pelo amor de Deus! Quando? Você está bem?

- Mas não foi nada grave... Só arranhou a porta lá na entrada do prédio.

- Quando foi isso? Você se machucou?

- Não, não. Eu estou bem, só me assustei um pouco.

- Mas quando foi isso?

- Foi agora, quando cheguei, faz uma meia hora.

- Mas não está doendo nada? Tem certeza? Quer ir ao hospital?

- Não, estou bem. Pode ficar tranquilo.

- Mas por que você não me avisou? Você entrou em casa, me deu oi, saiu e voltou de novo!

- Então, é porque eu fui até essa loja comprar a lingerie.

- Oi?

- Sim, esta que estou usando.

- Essa calcinha é nova?

- Sim.

- Espere. Deixe eu entender. Você bateu o carro, entrou em casa, e não falou nada. Saiu, foi comprar uma calcinha, voltou, vestiu e decidiu falar sobre o carro?

- Isso.

- Maristela, você está bem?

- Claro. Eu já disse, não machucou.

- Não, não é isso. Você não poderia ter entrado em casa e falado “arranhei a pintura do carro, mas estou indo ali comprar uma calcinha e já volto”?

- É que eu queria estar sexy para você.

- Por causa do carro?

- Sim.

- Mas não tem porque ficar bonita para isso!

- Eu queria.

- Você não bateu a cabeça quando bateu o carro? É normal ficar um pouco desorientada...

- Claro que não! Estou ótima!

- Mas por que você quis ficar sexy para me contar que a porta do carro está amassada?

- Ai, Alfredo... Vem cá para perto...

- Para de esfregar as mãos nos seios! O que você está fazendo?

- Você não gosta?

- Claro que gosto, mas você acabou de bater o carro! Não faz sentido. Bater o carro te excita?

- Claro que não!

- Porque você está estranha.

- Ai Alfredo... Estou apenas seduzindo você.

- Mas e o carro? Você não está nem aí?

- Não, e você?

- Não, eu fiquei aliviado por que você não se machucou. Mas fiquei aliviado, e não morrendo de tesão.

- Ai, Alfredo... Você é tão devagar...

- Tem certeza que isso não te excita? Eu vi um filme uma vez...

- Chega, Alfredo.

- É sério. As pessoas se excitavam com porrada de carros...

- Desisto.

- Você não é assim, é? Teve aquela vez que eu dei ré e enfiei o carro num poste e você não ficou assim. Se ralar a pintura deixou você acesa desse jeito, aquela vez deveria ter deixado você em ponto de bala. Foi uma baita pancada.

- Como você é grosso, Alfredo!

- Não, eu só não entendo a lógica da coisa. Você bate o carro e vem aqui de lingerie me contar. A gente vai comemorar?

- Ai, Alfredo, esquece!

- Não, eu quero saber. É como se fosse um aniversário de casamento? Esta é a nossa primeira porta amassada do casamento, então você coloca uma calcinha nova, vamos abrir uma champagne... É isso?

- Esquece!

- Não, senhora! Quero saber de onde você tirou essa ideia!

- Não. Vou para o quarto colocar uma calça.

- Primeiro, responde. De onde você tirou essa ideia?

- Eu vi na TV, ok?

- Quê?

- Vi uma propaganda que diz que a lingerie sexy ajudar a contar notícias ruins para o marido.

- Oi?

- É. É isso. Pronto, falei! E você cortou o clima!

- Sério, Maristela... Eu não fiquei bravo porque você bateu o carro, eu fiquei preocupado com você. O carro que se foda. Pára de alisar a barriga e fazer biquinho!

- Esquece, Alfredo. Você é insensível demais!

- Não tem lógica! Quer dizer que se eu perder o emprego, tudo o que preciso fazer é entrar em casa, tirar a roupa e ficar usando uma cueca nova para te contar a novidade?

- Eu vou para o quarto!

- Isso. Eu vou descer para ver o carro e você vai colocar uma roupa.

- Pode apostar que eu vou! Você nunca mais vai me ver de lingerie!

- Para de gritar, Maristela. O que é isso? Essa nota aqui?

- Que nota?

- Maristela, você pagou oitenta paus nessa calcinha!

- Não é calcinha, é lingerie!

- Oitenta reais? Nisso aí?

- Sim! Porque eu queria que você não se magoasse com o carro!

- Eu não me magoei! Mas oitenta reais!? Com oitenta reais eu compro cuecas para uns dez anos! E ainda pego umas meias!

- Alfredo, você é um insensível mesmo.

- Não importa! Oitenta reais?

- Eu queria que você não ficasse bravo com o carro!

- Não estou bravo com o carro, mas sim com você pagar oitenta reais numa calcinha!

- Não é calcinha! É lingerie!

- Você que vai pagar a funilaria desse carro, Maristela!
 

A loira burra da revista época

Do blog Amigos do Presidente Lula

A colunista Ruth Aquino, em artigo da Revista Época (PIG/RJ), tornou-se a piada pronta da "loira burra" (*) em pessoa, ao entender errado a "piada".

A piada (de mau gosto), no caso, é o anúncio de lingerie retratando Giselle Bundchen como uma espécie de... Loira burra!

E a loira burra da Revista Época, achou o anúncio "divertido", leve, maroto! (nas palavras dela).

A loira burra da Revista Época não entendeu que a propaganda é machista quando chama indiretamente as mulheres de "barbeiras" no trânsito, ao colocar Giselle como culpada de pegar o carro do "seu homem" e batê-lo.

A loira burra da Revista Época não entendeu que a propaganda é machista quando retrata a mulher como se seu papel fosse só de consumidora voraz, estourando o cartão de crédito do "seu homem".

A loira burra da Revista Época não entendeu que a propaganda é machista quando faz apologia da figura da mulher submissa sexualmente, que não seduz por desejo próprio, natural, e sim por necessidade de "acalmar seu homem".

A loira burra da Revista Época não entendeu que, por mais que a propaganda tente recorrer ao humor, a piada é machista, de mau gosto para a imagem da mulher bem resolvida do século XXI.

A loura burra da Revista Época entendeu errado, que seria o fato de Giselle aparecer de lingerie é que faria o anúncio retratar a mulher como objeto sexual. Ela até contra-argumenta que homens "sarados" também aparecem sem camisa ou semi-nus em novelas, e nem por isso alguém protesta.

Ora, a crítica não é ao uso da sensualidade, nem é quanto a aparecer de lingerie. Toda propaganda de lingerie mostra mulheres de lingerie, muitas bem mais ousadas, sem qualquer protesto. E esta da Giselle é até "careta", bem-comportada no tamanho das peças e sem cenas provocantes.

As críticas são dirigidas ao roteiro do comercial, ao vincular o uso da sensualidade e sedução ao medo, à submissão, ao estereótipo da mulher inepta para dirigir um carro e as finanças, só servindo para deleite sexual do "macho".

O êxtase da burrice na coluna dela é a "teoria inversa". Eis o que ela escreveu:

"Que tal uma teoria inversa? O anúncio na verdade mostraria o homem como objeto de manipulação das mulheres e não o contrário. O homem é um tolo que cai de quatro para o poder da sedução feminina. Em vez de macho fulo de raiva com o cartão de crédito estourado, o carro batido e a vinda da sogra, o marido invisível se submete, dócil, ao charme de sua mulher."

A "teoria inversa" seria boa, se retratasse Giselle usando o poder da sedução feminina para comemorar uma vitória dela, como ter ganho um prêmio, assinado um contrato profissional de sucesso ou de compra da casa própria para o casal pagar; passar em um concurso difícil; valeria até contar que ganhou na loteria, ou ousar colocando-a pedindo o homem em casamento, mas nunca retratar a mulher numa situação de medo para não sofrer consequências.

Que tal aprofundarmos a "teoria inversa" da loira burra da Revista Época?

Se a mulher não exercer seu "poder da sedução feminina" quais seriam as consequências para ela diante do "macho fulo de raiva" (nas palavras da loira burra da revista Época)? Justificaria a violência doméstica? Só restaria recorrer à lei Maria da Penha? E, ainda por cima, a culpa seria da mulher porque não fez o "certo" da propaganda, que diz ser contar más notícias vestida de lingerie?

E no trabalho? Como a mulher se livra de uma situação de grosseria ou assédio moral, diante de algo que deu errado? Exigindo respeito ou "usando seu charme"?

Pois é... pela mesma "teoria inversa", esses exemplos são alguns dos efeitos colaterais ao espalhar esse tipo de idéia na propaganda "marota". Dissemina os piores instintos na cultura da sociedade.

Outro argumento da colunista digno de "loira burra" é dizer:

"o governo recebeu 15 – quinze! – queixas de telespectadores indignados com a publicidade. Uma multidão. Por isso, a ministra Iriny Lopes foi à luta contra a lingerie incorreta.

A loira burra da Revista Época não entendeu duas coisas básicas:

1) basta olhar na internet as reações ao anúncio, para constatar que não são apenas "15 telespectadores indignados" que acham a propaganda ruim.

2) bastaria uma única queixa racional e bem fundamentada, para a Secretaria de Políticas das Mulheres entender que fazia sentido reclamar ao CONAR (Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária), órgão que sequer é estatal, é do próprio mercado publicitário. E que o CONAR existe para isso: quem não gosta, reclama. Todo mundo tem o direito de reclamar, inclusive um órgão de governo representativo da sociedade.

Poderia me estender mais nas críticas sobre o artigo da colunista, mas deixa pra lá... Será que adianta explicar mais? Será que a loira burra da Revista Época entenderia?

Em tempo: (*) Loura burra, aqui, só se refere à colunista da Revista Época, nada tendo a ver com as demais louras inteligentes, inclusive a própria Giselle Bundchen que, na vida real, mostra-se bem mais inteligente e vitoriosa do que a personagem roteirizada na propaganda (provavelmente feita por um publicitário homem e machista).

terça-feira, 13 de setembro de 2011

.....Angolana é eleita Miss Universo 2011

do Yahoo
 
A belíssima angolana Leila Lopes venceu a 60a edição do Miss Universo, que ocorreu nesta segunda-feira (12) no Credicard Hall, na capital paulista. Ela era uma das favoritas ao título e foi a mais aplaudida da noite. A brasileira Priscila Machado ficou em terceiro lugar. A ucraniana Olesia Stefanko ficou em segundo.



terça-feira, 9 de agosto de 2011

De novo Rede Globo? Não é melhor jogar o código de ética no lixo?

A FAB responde ao Fantástico
Do blog do Nassif


FAB - Nota Oficial - Esclarecimentos sobre reportagem do Fantástico exibida em 07/08/2011


O Comando da Aeronáutica repudia veementemente o teor da reportagem do jornalista Walmir Salaro, levada ao ar no Fantástico deste domingo, sete de agosto, e no Bom Dia Brasil desta segunda-feira, oito de agosto.
A matéria em questão parte de princípios incorretos e de denúncias infundadas para passar à população brasileira a falsa impressão de que voar no Brasil não é seguro. A reportagem contradiz os princípios editoriais da própria Rede Globo ao apresentar argumentos com falta de Correção e falta de Isenção, itens considerados pela própria emissora como sendo atributos da informação de qualidade.
O jornalista embarcou em uma aeronave de pequeno porte (aviação geral), que tem características como nível de voo, rota, classificação e regras de controle aéreo diferentes dos voos comerciais. A matéria trata os voos sob condições visuais e instrumentos como se obedecessem as mesmas regras de controle de tráfego aéreo, levando o espectador a uma percepção errada.
O piloto demonstra espanto ao avistar outras aeronaves sobre o Rio de Janeiro e São Paulo, dando um tom sensacionalista a uma situação perfeitamente normal e controlada que ocorre sobre qualquer grande cidade do mundo. Nesse sentido, causa estranheza que a reportagem tenha mostrado a proximidade dos aviões como algo perigoso para os passageiros no Brasil. As próprias imagens revelam níveis de voo diferenciados, além de rotas distintas.
Além disto, o piloto que opta por regras de voo visual, só terá seu voo autorizado se estiver em condições de observar as demais aeronaves em sua rota, de acordo com as regras de tráfego aéreo que deveriam ser de seu pleno conhecimento. Mesmo assim, o piloto receberá, ainda, avisos sobre outros voos em áreas próximas.
Foi exatamente o que ocorreu durante a reportagem, que mostra o contato constante dos controladores de tráfego aéreo com o piloto. Desde a decolagem foram passadas informações detalhadas sobre os demais tráfegos aéreos na região, sem que houvesse qualquer perigo para as aeronaves envolvidas.
A respeito da dificuldade demonstrada em conseguir contato com o serviço meteorológico, é interessante lembrar que há várias frequências disponíveis para contato com o Serviço de Informações Meteorológicas para Aeronaves em Voo (VOLMET), que está disponível 24 horas por dia em todo o país. Além destas, há frequências de ATIS (Serviço Automático de Informação em Terminal) que fornecem continuamente, por meio de mensagem gravada e constantemente atualizada, entre outros dados, as condições meteorológicas reinantes em determinada Área Terminal, bem como em seus aeroportos. Como, aliás, é o caso da Terminal de Belo Horizonte, incluindo os aeroportos da Pampulha e de Confins.
Ressalte-se que, a despeito da operação de tais serviços, todos os pilotos têm a obrigação de obter informações meteorológicas antes do voo pessoalmente nas Salas de Informações Aeronáuticas dos aeroportos, por telefone ou até pela internet.
Ao realizar o voo sem, possivelmente, ter acessado previamente informações meteorológicas, o piloto expôs a equipe de reportagem a uma situação de risco desnecessário. Tratou-se, obviamente, de mais um traço sensacionalista e sem conteúdo informativo.
A respeito do momento da reportagem em que o controle do espaço aéreo diz que não tem visualização da aeronave, cabe esclarecer que o voo realizado pela equipe do Fantástico ocorreu à baixa altitude, em regras de voos visuais, uma situação diferente dos voos comerciais regulares.
Na faixa de altitude utilizada por aeronaves como das empresas TAM e GOL, extensamente mostradas durante a reportagem, há cobertura radar sobre todo o território brasileiro. Para isso, existem hoje 170 radares de controle do espaço aéreo no país. Como dito acima, é feita uma confusão entre perfis de voos completamente diferentes. Dessa forma, o telespectador do Fantástico ficou privado de ter acesso a informações que certamente contribuem para a melhor apresentação dos fatos.
No último trecho de voo da reportagem, o órgão de controle determinou a espera para pouso no Aeroporto Santos-Dumont. O que foi retratado na matéria como algo absurdo, na realidade seguiu rigorosamente as normas em vigor para garantir a segurança e fluidez do tráfego aéreo. Os voos de linhas regulares, na maioria das vezes regidos por regras de voo por instrumentos, gozam de precedência sobre os não regulares, visando a minimizar quaisquer problemas de fluxo que possam afetar a grande massa de usuários.
A reportagem também errou ao mostrar que Traffic Collision Avoidance System (TCAS) é acionado somente em caso de acidente iminente. O fato do TCAS emitir um aviso não significa uma quase-colisão, e sim que uma aeronave invadiu a “bolha de segurança” de outra. Essa bolha é uma área que mede 8 km na horizontal (raio) e 300 metros na vertical (raio).
Cabe ressaltar ainda que a invasão da bolha de segurança não significa sequer uma rota de colisão, pois as aeronaves podem estar em rumos paralelos ou divergentes, ou ainda com separação de altitude, em ambiente tridimensional.
A situação pode ser corrigida pelo controle do espaço aéreo ou por sistemas de segurança instalados nos aviões, como o TCAS. Nem toda ocorrência, portanto, consiste em risco à operação. O TCAS, por exemplo, pode emitir avisos indesejados, pois o equipamento lê as trajetórias das aeronaves, mas não tem conhecimento das restrições impostas pelo controlador.
Todas as ocorrências, no entanto, dão início a uma investigação para apurar os seus fatores contribuintes e geram recomendações de segurança para todos os envolvidos, sejam controladores, pessoal técnico ou tripulantes. É esse o caso dos 24 relatórios citados na reportagem. A existência desses documentos não significa a ocorrência de 24 incidentes de tráfego aéreo, e sim uma consequência direta da cultura operacional de registrar todas as situações diferentes da normalidade com foco na busca da segurança.
A investigação tem como objetivo manter um elevado nível de atenção e melhorar os procedimentos de tráfego aéreo no Brasil, pois é política do Comando da Aeronáutica buscar ao máximo a segurança de todos os passageiros e tripulantes que voam sobre o país. Incidentes e acidentes não são aceitáveis em nenhum número, em qualquer escala.
Sobre a questão dos controladores de tráfego aéreo, ao contrário da informação veiculada, o Brasil tem atualmente mais de 4.100 controladores em atividade, entre civis e militares. No total, são mais de 6.900 profissionais envolvidos diretamente no tráfego aéreo, entre controladores e especialistas em comunicação, operação de estações, meteorologia e informações aeronáuticas.
Para garantir a segurança do controle do espaço aéreo no futuro, o Comando da Aeronáutica investe na formação de controladores de tráfego aéreo. A Escola de Especialistas de Aeronáutica forma anualmente 300 profissionais da área. Todos seguem depois para o Centro de Simulação do Instituto de Controle do Espaço Aéreo (ICEA), inaugurado em 2007 em São José dos Campos (SP). Com sistemas de última geração e tecnologia 100% nacional, o ICEA ampliou de 160 para 512 controladores-alunos por ano, triplicando a capacidade de formação e reciclagem.
Vale salientar que a ascensão operacional dos profissionais de controle de tráfego aéreo ocorre por meio de um conselho do qual fazem parte, dentre outros, os supervisores mais experientes de cada órgão de controle de tráfego aéreo. Desse modo, nenhum controlador de tráfego aéreo exerce atividades para as quais não estejam plenamente capacitados.
A qualidade desses profissionais se comprova por meio de relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA). De acordo com o Panorama Estatístico da Aviação Civil Brasileira, dos 26 tipos de fatores contribuintes para ocorrência de acidentes no país entre 2000 e 2009, o controle de tráfego aéreo ocupa a 24° posição, com 0,9%. O documento está disponível no link:
http://www.cenipa.aer.mil.br/cenipa/Anexos/article/19/PANORAMA_2000_2009...

A capacitação dos recursos humanos faz parte dos investimentos feitos pelo DECEA ao longo da década. Entre 2000 e 2010, foram R$ 3,3 bilhões, sendo R$ 1,5 bilhão somente a partir de 2008. O montante também envolve compra de equipamentos e a adoção do Sistema Avançado de Gerenciamento de Informações de Tráfego Aéreo e Relatórios de Interesse Operacional (SAGITÁRIO), um novo software nacional que representou um salto tecnológico na interface dos controladores de tráfego aéreo com as estações de trabalho. O sistema tem novas funcionalidades que permitem uma melhor consciência situacional por parte dos controladores. Sua interface é mais intuitiva, facilitando o trabalho de seus usuários.

Os resultados desses investimentos foram demonstrados pela auditoria realizada em 2009 pela International Civil Aviation Organization (ICAO), organização máxima da aviação civil, ligada às Nações Unidas, com 190 países signatários. A ICAO classificou o Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro entre os cinco melhores no mundo. De acordo com a ICAO, o Brasil atingiu 95% de conformidade em procedimentos operacionais e de segurança.

Sem citar quaisquer dessas informações, para realizar sua reportagem, a equipe do Fantástico exibe depoimentos sem ao menos pesquisar qual a motivação dessas fontes. O Sr. Edileuzo Cavalcante, por exemplo, apresentado como um importante dirigente de uma associação de controladores, é acusado por atentado contra a segurança do transporte aéreo, motim e incitação à indisciplina, e responde por essas acusações na Justiça Militar.

O Sr. Edileuzo Cavalcante foi afastado da função de controlador de tráfego aéreo em 2007 e recentemente excluído das fileiras da Força Aérea Brasileira. Em 2010, também teve uma candidatura impugnada pela Justiça Eleitoral.

Quanto à informação sobre as tentativas de chamada por parte do controlador de tráfego aéreo, Sargento Lucivando Tibúrcio de Alencar, no caso do acidente ocorrido com a aeronave da Gol (PR-GTD) e a aeronave da empresa Excel Aire (N600XL) em 29 de setembro de 2006, cabe reforçar que elas não obtiveram sucesso devido à aeronave da Excel Aire não ter sido instruída oportunamente a trocar de frequência e não a qualquer deficiência no equipamento, conforme verificado em voo de inspeção. Durante as tentativas de contato, a última frequência que havia sido atribuída à aeronave estava fora de alcance, impossibilitando o estabelecimento das comunicações bilaterais.

Já quando foi consultar o Departamento de Controle do Espaço Aéreo, a equipe de reportagem omitiu o fato que trataria de problemas de tráfego aéreo. Foi informado que se tratava unicamente sobre a evolução do tráfego aéreo de 2006 a 2011.

Por fim, o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica ressalta que voar no país é seguro, que as ferramentas de prevenção do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro estão em perfeito funcionamento e que todas as ações implementadas seguem em concordância com o volume de tráfego aéreo e com as normas internacionais de segurança. No entanto, este Centro reitera que a questão da segurança do tráfego aéreo no país exige um tratamento responsável, sem emoção e desvinculado de interesses particulares, pessoais ou políticos.

Brasília, 9 de agosto de 2011.
Brigadeiro-do-Ar Marcelo Kanitz Damasceno
Chefe do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica

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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Não espere que o governo lute em seu lugar

Do Blog da Cidadania
Por Eduardo Guimarães

Políticos não gostam de brigar com a mídia. Inclusive os bons políticos – e eles existem. Isso ocorre porque, às vezes, uma eleição fica dependendo de um pequeno percentual de votos e, como a mídia atinge a muitos, uma simples reportagem pode acabar com uma carreira política ou resultar na perda de uma eleição.


Por outro lado, apesar de o poder de difusão da blogosfera ter aumentado bastante nos últimos anos, ainda não é capaz de enfrentar meios de comunicação de massa que facilmente atingem milhões em questões de horas enquanto que a mesma blogosfera não passa da casa dos milhares em períodos bem maiores, de dias ou semanas.

Há hoje, assim, um assunto que a mídia tenta ignorar: a acusação de seletividade ética em sua “fiscalização” do Estado, ou seja, a conduta de só “fiscalizar” políticos do PT ou aliados ao partido apesar de que acusações idênticas poderiam ser feitas a tucanos e aos seus aliados e não são feitas.

A seletividade ética da mídia é altamente danosa à democracia porque não pretende promover ética de verdade, mas os interesses de determinados grupos políticos. Para isso, Globo, Folha de São Paulo, Estadão e Veja publicam diariamente, há anos, denúncias contra um lado só, poupando o outro.

Já cansei de dizer aqui que o problema não é fiscalizar o PT e seus aliados, mas fiscalizar só a estes. E de dizer que as poucas matérias incômodas aos adversários do grupo político que governa o país não passam de cortina de fumaça, porque são pouquíssimas e sem destaque sequer parecido com o que é dado ao outro lado.

Apesar disso, a mídia tem militância. Inclusive na blogosfera. Por isso a chamam de Partido da Imprensa Golpista (PIG), porque, além de agir politicamente em benefício de alguns políticos e em prejuízo de outros, age como partido, organizando uma militância disposta a se equiparar à militância partidária assumida.

Basta abrir qualquer blog político que tenha bom volume de comentários para ver a militância midiática defendendo abertamente esses grandes veículos supracitados de uma acusação indefensável sob qualquer análise minimamente séria e aprofundada, de que omitem notícias desfavoráveis ao PSDB e aliados e destacam as desfavoráveis aos seus adversários.

Em 2007, foi fundado o Movimento dos Sem Mídia para lutar contra isso. Uma ONG sem recursos e que proibiu a si mesma de receber dinheiro público. Mas isso não a impediu de promover o primeiro ato público de relevo contra um meio de comunicação após o fim da ditadura militar. Foi diante da Folha de São Paulo, em 15 de setembro daquele ano.

Duas centenas de pessoas ouviram-me dizer ao megafone (comprado sob contribuições dos leitores deste blog) diante da sede da Folha, na Alamenda Barão de Limeira, em São Paulo, tudo aquilo que, agora, parece que há que ser dito de novo de uma forma que não se possa ignorar.

É difícil, hoje em dia, mobilizar grandes multidões para uma manifestação que não seja em prol de interesses restritos de grupos – interesses legítimos, diga-se – tais como a legalização da maconha, alguma campanha salarial, os direitos dos homossexuais etc. A exceção foi um ato público recente, o “Churrascão da Gente Diferenciada”, em maio, no bairro paulistano de Higienópolis, que atraiu uma pequena legião de manifestantes.

Não se pode ignorar, porém, que aquele foi um fenômeno, um raio que dificilmente cairá no mesmo lugar outra vez. Até porque, a conduta absurda de um grupo de moradores daquele bairro de quererem proibir ali a circulação de outras pessoas ganhou destaque na mídia e a própria seletividade ética dessa mesma mídia certamente não ganhará destaque algum.

Se não se fizer nada, então, continuaremos a ser esbofeteados por uma ética absolutamente falsa, seletiva, cínica de, por exemplo, acusarem a família de Lula de se beneficiar de sua influência para fazer negócios enquanto que as famílias de políticos influentes do PSDB como Fernando Henrique Cardoso ou José Serra fazem negócios esquisitos e a mídia ignora.

No fim de semana, a Folha acusou uma neta de Lula de se beneficiar da influência do avô e, nesta quarta-feira, O Globo acusa um filho do ex-presidente da mesma coisa. Ou melhor, não são acusações, são insinuações, porque, como não há um fato determinado a acusar, levanta-se suspeita sem dizer exatamente sobre o quê.

No último sábado, este blog noticiou que o filho legítimo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Paulo Henrique Cardoso, o PHC, acaba de se associar ao maior grupo de mídia do planeta, a Walt Disney Company, em um empreendimento inusitado, uma grande rádio em São Paulo que pretende atingir cobertura nacional.

A mídia, porém, apesar de FHC ser o maior líder da oposição demo-tucana e de um partido que controla o segundo maior orçamento da República, o do Estado de São Paulo, não noticiou nada, não investigou nada, não insinuou nada. Ignorou solenemente. Ou melhor: escondeu, porque isso é notícia, sim. E “quente”.

Por que, com tantos empreendedores tradicionais de mídia neste país, o maior grupo de mídia do mundo foi procurar justamente o filho de um político que durante o governo do pai se beneficiou de dinheiro público sem que a mídia, então, fizesse barulho sequer parecido com o que faz hoje quando Lula ou sua família ganham dinheiro privado?

Esse é só um exemplo da seletividade ética da mídia. Num momento em que o DNIT, órgão de um governo petista, não sai da mídia um só dia, a Dersa, órgão do governo tucano de São Paulo, tem o mesmo tipo de problema que seu congênere federal e a mídia não cobre, não denuncia, não pressiona, não fiscaliza. Por quê?

Peço aos militantes mais fervorosos do PT e aos apoiadores mais convictos do governo Dilma que não se zanguem com o que direi, pois a janela não tem culpa pela paisagem que mostra: este governo não promoverá democratização da comunicação através da propositura de uma lei como a que a Argentina tem hoje, a “ley de médios”.

Sobretudo: não será enviado ao Congresso, pelo governo, qualquer projeto de lei que vete propriedade cruzada de meios de comunicação – uma lei igual às que existem em países “marxistas” como Estados Unidos, Inglaterra, França, Bélgica, Suíça, enfim, nas sociedades mais avançadas e democráticas do planeta.

É definitivo, meus caros. Tenho informações, de fontes seguras, de que o governo Dilma não tem a menor intenção de mexer com aquilo que impede a democratização da comunicação, a concentração de propriedade de meios. Não se tentará proibir que um mesmo grupo tenha tevê, rádio, jornal, revista, portal de internet, tudo ao mesmo tempo e no mesmo lugar.

Não tenho culpa disso, não fui eu que tomei essa decisão e ela já é discutida abertamente no governo e entre a classe política. Não estou inventando nada. Aliás, a mera conduta conciliadora do governo federal deixa claro que não será feito nada contra os barões da mídia que lhes contrarie o interesse de hegemonia nas comunicações.

Muitos não acreditarão em mim e quererão pagar para ver. Entendo, aceito e respeito esse direito democrático de divergir daquilo que é, somente, o ponto de vista deste blogueiro, apesar de que, entre os mais informados e que têm interlocução com o governo, todos sabem que o que digo é fato.

Todavia, faço uma proposta àqueles que não estão entre os que pretendem ficar sentados esperando que o governo faça aquilo que compete à sociedade fazer, ou seja, pressionar para que tenhamos uma regulação dos meios de comunicação nem maior nem menor do que a que vige em TODOS os países verdadeiramente democráticos.

Neste mês de agosto, tenho compromissos com a minha atividade remunerada – que nada tem que ver com as questões de que este blog trata, pois sou representante comercial. Contudo, em setembro terei condições de doar uma parcela maior do meu tempo à causa da democratização (de verdade) da comunicação de massas no Brasil.

Sei que é difícil mobilizar as pessoas para saírem da militância virtual e irem para a militância real, nas ruas, aquela que, aqui ou em qualquer parte, é a que produz efeitos verdadeiros e profundos, ainda. Pode ser que um dia alguém consiga mudar alguma coisa só através da internet. Hoje, contudo, só ações concretas têm esse poder.

Não vou esperar que o governo faça o que é de interesse da sociedade sem ser pressionado. O escândalo na imprensa britânica, que já se espalha por outros países, mostra como é danoso para a sociedade uma imprensa que mente sobre seus métodos e objetivos e que se converte em partido político representante de grupos de interesse.

Pegarei o megafone que os leitores deste blog ajudaram a comprar em 2007, portanto, e irei para diante da mesma Folha. Irei várias vezes em um período de semanas. Na primeira vez, poderei ir sozinho ou com um grupo pequeno. Contudo, voltarei outra e outra vez. Gritarei, lá na frente, que quero que a mídia fiscalize todos os políticos e não só os do PT e aliados.

Em alguns dias, quem sabe mais gente decida ir protestar junto comigo. E, quem sabe, em outras partes do país surjam outros Eduardos que façam a mesma coisa diante de outros tentáculos do PIG até que a nossa voz se torne ensurdecedora e a mídia tenha que acusar o golpe e se explicar. E o governo tenha que agir.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Lula ganha prêmio internacional por contribuir no combate à fome

21/06/2011 - 15h13
DA REUTERS

Deu na Folha On Line
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi nomeado nesta terça-feira vencedor do prêmio World Food Prize, concedido a personalidades que deram contribuição relevante no combate à fome no mundo, informou a fundação que concede o prêmio, sediada no Iowa, Estados Unidos.

O ex-presidente de Gana John Agyekum Kufuor também recebeu o prêmio.

Segundo comunicado da World Food Prize Foundation, Lula foi escolhido por antecipar as Metas do Milênio da Organização das Nações Unidas ao garantir que 93% das crianças e 82% dos adultos façam três refeições por dia.

A fundação também destacou programas sociais do governo Lula, como Fome Zero, Bolsa Família, Mais Alimentos, e o programa de aquisição de alimentos para merenda escolar.

"Ao longo dos oito anos de sua administração, o comprometimento e a visão do presidente Lula da Silva conseguiram reduções dramáticas na fome, na pobreza extrema e na exclusão social, melhorando grandemente a vida do povo brasileiro", afirmou a fundação.

Em comunicado divulgado pelo Instituto Cidadania, fundado por Lula, o ex-presidente comemorou a escolha.

"Eu estou emocionado de saber que o Brasil foi escolhido como um país que conseguiu boas políticas na área da agricultura e combate à fome", disse Lula.

"O Brasil tem muito a mostrar na área de segurança alimentar. E nós queremos compartilhar nossa experiência com outros países, especialmente da África e os países mais pobres da América Latina", completou.

O instituto lembrou que a premiação para Lula vem em um momento em que o Brasil patrocina a candidatura de José Graziano para chefiar a FAO (órgão da ONU para agricultura e alimentação).

Graziano foi ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate a Fome no início do primeiro mandato de Lula, e o ex-presidente publicou artigo na edição de domingo do jornal inglês "The Guardian" em que defende o nome de Graziano para o posto.

A eleição do novo diretor-geral da FAO será feita durante o próximo congresso da entidade, que vai de 25 de junho a 2 de julho na sede da organização, em Roma.

O World Food Prize foi criado em 1986 pelo cientista norte-americano Norman Borlaug, responsável pela chamada "Revolução Verde" e vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1970.

Além de Lula, outros dois brasileiros já foram agraciados com o prêmio: o pesquisador aposentado da Embrapa Edson Lobato e o ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli, que receberam o prêmio em 2006 por terem contribuído para transformar o Cerrado numa região fértil para a agricultura.

A Carta dos blogueiros e alguns vídeos

Carta do II BlogProg – Brasília – Junho de 2011

Do blog Escrivinhador
Desde o I Encontro Nacional dos Blogueir@s Progressistas, em agosto de 2010, em São Paulo, nosso movimento aumentou a sua capacidade de interferência na luta pela democratização da comunicação, e se tornou protagonista da disseminação de informação crítica ao oligopólio midiático.

Ao mesmo tempo, a blogosfera consolidou-se como um espaço fundamental no cenário político brasileiro. É a blogosfera que tem garantido de fato maior pluralidade e diversidade informativas. Tem sido o contraponto às manipulações dos grupos tradicionais de comunicação, cujos interesses são contrários a liberdade de expressão no país.

Este movimento inovador reúne ativistas digitais e atua em rede, de forma horizontal e democrática, num esforço permanente de construir a unidade na diversidade, sem hierarquias ou centralismo.

Na preparação do II Encontro Nacional, isso ficou evidenciado com a realização de 14 encontros estaduais, que mobilizaram aproximadamente 1.800 ativistas digitais, e serviram para identificar os nossos pontos de unidade e para apontar as nossas próximas batalhas.

O que nos une é a democratização da comunicação no país. Isso somente acontecerá a partir de intensa e eficaz mobilização da sociedade brasileira, que não ocorrerá exclusivamente por conta dos governos ou do Congresso Nacional.

Para o nosso movimento, democratizar a comunicação no Brasil significa, entre outras coisas:

a) Aprovar um novo Marco Regulatório dos meios de comunicação. No governo Lula, o então ministro Franklin Martins preparou um projeto que até o momento não foi tornado público. Nosso movimento exige a divulgação imediata desse documento, para que ele possa ser apreciado e debatido pela sociedade. Defendemos,entre outros pontos, que esse marco regulatório contemple o fim da propriedade cruzada dos meios de comunicação privados no Brasil.

b) Aprovar um Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) que atenda ao interesse público, com internet de alta velocidade para todos os brasileiros. Nos últimos tempos, o governo tem-se mostrado hesitante e tem dado sinais de que pode ceder às pressões dos grandes grupos empresariais de telecomunicações, fragilizando o papel que a Telebrás deveria ter no processo. Manifestamos, ainda, nosso apoio à PEC da Banda Larga que tramita no Congresso Nacional (propõe que se inclua, na Constituição, o acesso à internet de alta velocidade entre os direitos fundamentais do cidadão).

c) Ser contra qualquer tipo de censura ou restrição à internet. No Legislativo, continua em tramitação o projeto do senador tucano Eduardo Azeredo de controle e vigilância sobre a internet – batizado de AI-5 Digital. Ao mesmo tempo, governantes e monopólios de comunicação intensificam a perseguição aos blogueiros em várias partes do país, num processo crescente de censura pela via judicial. A blogosfera progressista repudia essas ações autoritárias. Exige a total neutralidade da rede e lança uma campanha nacional de solidariedade aos blogueiros perseguidos e censurados, estabelecendo como meta a criação de um “Fundo de Apoio Jurídico e Político” aos que forem atacados.

d) Lutar pelo encaminhamento imediato do Marco Civil da Internet, pelo poder executivo, ao Congresso Nacional.

e) Fortalecer o movimento da blogosfera progressista, garantindo o seu caráter plural e democrático. Com o objetivo de descentralizar e enraizar ainda mais o movimento, aprovamos:

- III Encontro Nacional na Bahia, em maio de 2012.

A Comissão Organizadora Nacional passará a contar com 15 integrantes:

- Altamiro Borges, Conceição Lemes, Conceição Oliveira, Eduardo Guimarães, Paulo Henrique Amorim, Renato Rovai e Rodrigo Vianna (que já compunham a comissão anterior);
- Leandro Fortes (representante do grupo que organizou o II Encontro em Brasília);
- um representante da Bahia (a definir), indicado pela comissão organizadora local do III Encontro;
- Tica Moreno (suplente – Julieta Palmeira), representante de gênero;
- e mais um representante de cada região do país, indicados a partir das comissões regionais (Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte). As comissões regionais serão formadas por até dois membros de cada estado, e ficarão responsáveis também por organizar os encontros estaduais e estimular a formação de comissões estaduais e locais.

Os blogueir@s reunidos em Brasília sugerem que, no próximo encontro na Bahia, a Comissão Organizadora Nacional passe por uma ampla renovação.

f) Defender o Movimento Nacional de Democratização da Comunicação, no qual nos incluímos, dando total apoio à luta pela legalização das rádios e TVs comunitárias, e exigindo a distribuição democrática e transparente das concessões dos canais de rádio e TV digital.

g) Democratizar a distribuição de verbas públicas de publicidade, que deve ser baseada não apenas em critérios mercadológicos, mas também em mecanismos que garantam a pluralidade e a diversidade. Estabelecer uma política pública de verbas para blogs.

h) Declarar nosso repúdio às emendas aprovadas na Câmara dos Deputados ao projeto de Lei 4.361/04 (Regulamentação das Lan Houses), principais responsáveis pelos acessos à internet no Brasil, garantindo o acesso à rede de 45 milhões de usuários, segundo a ABCID (Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital).

Brasília, 19 de junho de 2011.



A Marcha da Liberdade

Imprensa se assustou com o Encontro de blogueiros

Por Eduardo Guimarães 

Por enquanto, só a grande imprensa escrita repercutiu o II Encontro Nacional Nacional de Blogueiros progressistas. O braço televisivo da direita midiática ainda não ousa perscrutar um movimento que a grande maioria dos conservadores não entendeu.


Antes do Encontro, veículo nenhum havia noticiado que ocorreria um evento que reuniria autoridades e celebridades políticas do porte de um ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Havia uma desconfiança de que o ex-presidente talvez não comparecesse.

Lula não só apareceu, mas levou com ele autoridades e políticos importantes. A presença dessas pessoas foi o que deu um choque de realidade nessa grande imprensa que continua achando que pode esconder ou vetar alguma coisa.

A cobertura de Globo, Folha ou Estadão sobre o Encontro de Blogueiros sugere que julgam que podem manter o foco no financiamento do evento e caracterizar como ímpeto censor o questionamento da blogosfera à concentração de propriedade de meios de comunicação.

Mas o que foi que a grande imprensa não entendeu? Basicamente, o interesse de tantos atores políticos de peso pela blogosfera autoproclamada progressista.

Será que políticos como Lula ou José Dirceu, ou ministros, governadores, parlamentares e intelectuais de peso iriam a um evento como aquele por nada? Claro que não. Quando o ex-presidente disse que a Blogosfera tem conseguido se contrapor à grande mídia, falou sério.

O que tantos ainda não entenderam é que o Encontro de Blogueiros foi um evento de comunicadores, e não do público. Ora, quantos veículos vão aos eventos do Instituto Millenium, por exemplo? Seis, sete, dez empresas jornalísticas?

A força da Blogosfera está nessa teia comunicacional em que se transformou. São milhares de blogs e sites que, juntos, congregam tanto ou mais público do que o dos grandes jornais.

E a cobertura desses veículos, nesta segunda-feira, mostra que eles ainda têm medo de entrar de sola no assunto. Fizeram coberturas laterais através dos repórteres que enviaram ao Encontro de blogueiros.

Tentam caracterizar como ilegalidade alguns milhares de reais que empresas de economia mista, sindicatos, empresas privadas, pessoas físicas e até o governo do Distrito Federal doaram para que o Encontro se realizasse. Ou, então, inventam um ímpeto censor que inexiste.

Abaixo, mais dois exemplos do tom com que a imprensa ligada ao PSDB e ao DEM tratou II Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas.

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FOLHA DE SÃO PAULO
20 de junho de 2011

Blogueiros “progressistas” pedem novo marco regulatório da mídia

DE BRASÍLIA - Uma carta aberta redigida por blogueiros que participaram de um encontro em Brasília pede novo marco regulatório dos meios de comunicação (conjunto de leis e diretrizes que regulam o funcionamento do setor) e faz ataques à mídia.
O evento, patrocinado por Petrobras, Fundação Banco do Brasil, Itaipu Binacional e governo do Distrito Federal, terminou ontem, em Brasília, e contou com a presença de cerca de 400 pessoas que apoiaram o governo Lula e a eleição de Dilma Rousseff.
“É a blogosfera que tem garantido de fato maior pluralidade e diversidade informativas”, diz trecho da carta.
Blogueiros pedem divulgação imediata do projeto redigido pelo ex-ministro Franklin Martins (Secretaria de Comunicação Social na gestão Lula), ainda não tornado público.
A abertura contou com a participação de Lula e do ministro Paulo Bernardo (Comunicações). Lula criticou o papel de “falsos formadores de opinião”, e Bernardo disse que os meios de comunicação precisam saber “ouvir críticas”.
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O Estado de São Paulo
18 de junho de 2011

Dirceu convoca blogueiros contra ‘grande mídia’

‘É reserva de mercado, não querem nos dar o direito de informar’, disse o ex-ministro
Andrea Jubé Vianna – O Estado de S. Paulo

Ao participar do Segundo Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, o ex-ministro José Dirceu convocou os blogueiros a se mobilizarem e somarem forças para o embate contra os grandes veículos de comunicação. De acordo com o ex-ministro – que se considera “o grande alvo da mídia” nos últimos dez anos –, existe uma “disputa política do direito de informar” e uma disputa comercial pela verba publicitária do governo.
“É reserva de mercado, não querem nos dar o direito de informar, querem desqualificar os blogs”, afirmou Dirceu a um auditório lotado por cerca de 200 blogueiros. Dirceu defendeu a urgente regulamentação dos meios de comunicação, a concretização do programa nacional de banda larga e a aprovação do projeto de lei 116/10, que institui novas regras para o mercado de tevê por assinatura.
“É uma vergonha que isso (a regulamentação) não seja realidade. Não é de interesse de alguns grupos (de comunicação) que estão sendo contra o progresso, eles querem manter o monopólio da informação”, criticou. Ele ainda desafiou o Congresso a aprovar a nova lei. “Se o Poder Legislativo é soberano e autônomo, ele fará a reforma (dos meios de comunicação)”.
Num tom que lembrava o ex-líder estudantil que lutou contra a ditadura militar, Dirceu prometeu unir-se aos blogueiros no embate contra os grandes meios de comunicação. “Se não travarmos essa batalha, ela não será travada. É hora de dar um grande salto, partir pra mobilização. Estou disposto a travar essa luta junto com vocês”.
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A imprensa se esquiva do ponto central desse movimento de blogueiros, que é a democratização da Comunicação no Brasil – o que seja, um marco regulatório que, entre outras coisas, não permita o atual oligopólio na comunicação por rádio e tevê.

Por conta disso, a mídia corporativa tentará não divulgar o documento final do II Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas. Quer fugir da questão da propriedade cruzada. Não quer discuti-la porque sabe que não tem como defendê-la.

Como a mídia vai chamar de censura o que existe até na legislação dos Estados Unidos, da Europa e de vários países da América Latina? Só lhe resta a estratégia ridícula de tentar criminalizar o apoio financeiro ao Evento do último final de semana.

A mídia corporativa e a oposição entendem ainda menos o movimento em curso do que os partidos da base aliada do governo Dilma. Mas essa base tampouco entendeu tudo. Não há um apoio incondicional ao governismo por parte da blogosfera progressista.

Autoridades do governo federal foram duramente inquiridas pelo Encontro a que compareceram. Este blogueiro, particularmente, chegou a bater boca com o ministro Paulo Bernardo, ainda que ele tenha me pedido desculpas por se exaltar.

Apesar disso, o que fiz foi o que o ex-presidente Lula tinha pedido momentos antes, que foi aquilo com que todos nós, do Encontro de blogueiros, concordamos: que aquele público fosse mesmo para cima do ministro das Comunicações.

Cobrar políticas públicas das autoridades, é um direito. Contudo, há, sim, quem, nesse movimento de blogueiros, queira um tom mais suave em relação ao governo. E é legítimo que essas pessoas queiram. São militantes e coerentes com essa militância.

Contudo, foram vencidas em votação ao fim do evento que produzirá um documento final que deve conter um tom legitimamente assertivo em relação ao governo Dilma, pedindo políticas para democratizar a comunicação.

A pluralidade de opiniões dentro do movimento dos blogueiros progressistas, é imensa. Se tivesse que caracterizá-la por viés partidário, diria que há gente do PT, do PSOL, do PMDB, do PDT, do PSB, do PC do B, etc.

Mas também há feministas, sem-terra, donas de casa, aposentados, professores, jornalistas, estudantes, sindicalistas e, até, um representante comercial como este que escreve. Temos ideologia? Sim. Unânime? Não. E é bom que seja assim.

Os blogueiros progressistas continuarão na linha questionadora não só da direita, mas também da própria esquerda e de seus braços políticos na administração pública.

Por muito tempo, a grande mídia conservadora – que ajudou a dar um golpe militar no Brasil – era a única fonte de pressão jornalística sobre o Estado. O poder de falar com as massas dava a às famílias donas de meios de comunicação uma primazia no debate público que vai sumindo.

Isso acontecendo em boa parte da América Latina, que ainda está longe das leis contra oligopólios de comunicação que vigem em países industrializados. É um processo inexorável que caminha com o desenvolvimento político, econômico e social do Brasil.

A direita midiática está perplexa, assustada e até indignada. Não entende como cidadãos comuns conseguiram erigir um movimento que vai se tornando cada vez mais estridente. Logo, a sua voz se fará ouvir em um tom que será impossível ignorar.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Saudação aos Blogueiros Progressistas

Por Daniela


Este ano, infelizmente, o Blog Mulheres de Fibra não poderá participar - presencialmente, claro - do II Encontro Nacional dos Blogueiros Progressistas. Mesmo assim, deixamos aqui a nossa saudação a cada uma das pessoas que ali estarão presentes, oferecendo uma enorme contribuição à consolidação da nossa Democracia.
Acabei de assistir um vídeo de uma fala do Deputado Paulo Teixeira, uma dica do blogueiro Rogério Tomaz Jr., e resolvi postá-lo por expressar muito bem o que estamos sentindo.

É isso aí, pessoal, um ótimo encontro e vamos em frente,
abraços!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

O Código Florestal e a violência no campo

Do site da Caros Amigos

Em média, por ano, 2.709 famílias são expulsas de suas terras e 63 pessoas são assassinadas no campo brasileiro na luta por um pedaço de terra A violência é parte essencial da história dos pobres da terra: índios, negros, camponeses. Ela, por sua vez, é alimentada pela impunidade – fenômeno sócio-político conscientemente assimilado pela nossa instituição judiciária.


Por Dom Tomás Balduíno*

No mês de maio deste ano, desabaram sobre a sociedade brasileira cenas de uma dupla violência: a aprovação do Código Florestal pela maioria da Câmara dos Deputados, tratando do desmatamento, e os assassinatos de líderes camponeses que se opunham ao desmatamento na Amazônia.

A ninguém escapa o protagonismo da bancada ruralista pressionando a votação deste Código por meio de mobilizações de pessoal contratado em Brasília e através de sessões apaixonadas na Câmara dos deputados. Por outro lado, as investigações dos assassinatos vão detectando poderosos ruralistas por trás destas e de outras mortes de camponeses.

O Código tem, de ponta a ponta, um objetivo maior inegável: ampliar o desmatamento em vista do aumento da produção. Um estudo técnico sobre as mudanças aprovadas em Brasília assinala que elas permitem o desmatamento imediato de 710 mil km², mais que o dobro do território do Estado de Goiás.

É impressionante a fúria com que este instrumento legal avança sobre as áreas de preservação dos mananciais destinadas a criar uma esponja à beira dos rios, defendendo-os das enxurradas e impedindo o seu assoreamento. A legislação anterior, embora tímida, exigia uma faixa de 30 metros de cada lado. A atual legislação a reduz para ridículos 10 metros.

A reserva legal, religiosamente mantida pelas pequenas e médias propriedades, é o que ainda hoje dá uma visível cobertura de vegetação nativa em nossos diversos biomas, em razão do grande número de médios e pequenos estabelecimentos. Isso também desaparece. Aliás, o Código não cuida da agricultura familiar que é responsável por cerca de 70% dos alimentos que chegam à mesa do brasileiro.

O Código se ajusta muito mais às áreas desmatadas a perder de vista e destinadas a gigantescas monoculturas. A grande expectativa com relação a esse Código é que se consolidasse a proposta já transformada em lei, de recuperação das áreas devastadas. Para nossa decepção, deixa-as como estão. Nós, do Centro Oeste, estávamos sonhando com a recuperação das áreas de preservação permanente do rio Araguaia, nosso Pantanal, sobretudo das suas nascentes, desmatadas em 44,5%. O sonho virou pesadelo. Com efeito, a nova Lei deixa tudo como está.

Até hoje, a grande queixa com relação aos desmatamentos no Cerrado e na Amazônia se prendia à falta de fiscalização. Entretanto, é justo reconhecer que muito esforço se fez buscando garantir a lei. Por exemplo, a varredura das áreas via satélite. Infelizmente, tornou-se uma prática nefasta na Amazônia os proprietários aguardarem dias nublados para procederem à queima das árvores. Ao se abrir o céu, o desmatamento já é fato consumado.

Em um dos Fóruns do Cerrado foram ouvidos depoimentos de camponeses denunciando outro tipo de crime: o desmatamento rápido à noite de importantes áreas de Cerrado com o uso de máquinas possantes, sem o risco de fiscalização.

Agora, com a flexibilização do novo Código, não há mais necessidade de fiscalização. Mais ainda, alguns proprietários, sabendo com antecedência das permissividades e anistias a serem introduzidas por este código nas áreas devastadas ilegalmente, partiram logo para a criação de fatos consumados derrubando a cobertura verde. O título do brilhante artigo de Washignton Novais em “O Popular”, de 02 de junho, na página 7, é o seguinte: “Código de florestas ou sem?”. A nova lei foi apelidada também de “Código da desertificação”.

País do latifúndio

O que estaria por trás de tanta devastação e de tanta lenha acumulada? É o seguinte: apesar da apregoada excelência dos avanços técnicos e econômicos do agronegócio brasileiro, os dados da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), referentes ao ano de 2009, em relação à produção por hectare, puseram a nu o fato, por exemplo, de que o Brasil está na sofrível 37ª posição na produção de arroz, atrás de países como El Salvador, Peru, Somália e Ruanda.

No milho, ocupamos a 64ª posição. No trigo, um vexame, na 72ª posição. Na soja, o badalado carro-chefe do agronegócio brasileiro um modesto 9º lugar, atrás do Egito, da Turquia e da Guatemala. Com relação ao boi, motivo de tanta soberba, de ostentação, de riqueza nas festas agro-pecuárias, ocupamos a humilde 48ª posição, atrás do Chile, do Uruguai e do Paraguai. (Confiram mais dados no substancioso artigo de Gerson Teixeira, Brasília, 19.05.11, “As Mudanças no Código Florestal: Alternativa para a ineficiência produtivista do agronegócio”).

A produção agropecuária sofre pelos altos gastos devido ao viciado uso do fertilizante e do agrotóxico. Os dados da FAO atestam que, a partir de 2007, nos transformamos no principal país importador de agrotóxico do mundo. Como essa tecnologia, em geral, tem se revelado ainda ineficaz na sonhada superprodução, pensou-se logo na liberação de áreas cada vez maiores de terras destinadas à produção. Se não vencemos em tecnologia, somos imbatíveis no latifúndio. E, para a tranqüilidade deste avanço predatório sobre o que resta de cobertura verde, buscou-se um instrumento garantido: justamente esse tal Código Florestal.

Apesar da complexidade deste tema, de pesadas conseqüências para o futuro da nossa terra, da nossa biodiversidade, dos recursos hídricos, da vida sustentável do solo, causou muita estranheza o fato destes legisladores não terem convidado em momento algum a nossa SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) a ABC, (Academia Brasileira de Ciências) o FBM (Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas) para os debates. Pois bem, aí está o desastroso resultado: saiu um código elaborado por ruralistas a serviço de seus colegas ruralistas. Restou-nos, como disse Paulo Afonso Lemos, “um código que não é claro, não é preciso, não é seguro”.

Mortes no campo

Em dezembro de 1988 caiu Chico Mendes, tal como uma pujante seringueira cortada pela raiz. No início de 2005, caiu a irmã Dorothy Stang, atirada pelas costas com a sua Bíblia na mão, sua pomba mensageira da Paz. Na manhã do dia 24 de maio deste ano, derrubaram o casal Maria do Espírito Santo da Silva e José Cláudio Ribeiro da Silva, cuja orelha foi cortada pelos pistoleiros como prova do serviço feito. Logo em seguida, foi assassinado Eremilton Pereira, na mesma área. Supõe-se que tenha sido queima de arquivo por estar presente na hora do primeiro crime. Foi morto também Adelino Ramos, em Rondônia, um sobrevivente de Corumbiara.

Há uma lógica perversa por trás destas e de outras mortes, desde a morte de Zumbi dos Palmares e de Antônio Conselheiro de Canudos, até a morte de José Cláudio da Silva, de Nova Ipixuna. Esta lógica consiste na eliminação seletiva de lideranças vistas como obstáculo aos grandes projetos do agronegócio. A senadora Kátia Abreu, arvorando-se em advogada dos criminosos, declarou no mesmo dia 24 que estas mortes se devem à invasão de terras. A senadora ou é desinformada ou foi leviana na sua fala. Ao contrário, eles são legítimos assentados do Incra. Mais ainda, são dois heróicos pioneiros da criação da reserva extrativista do Assentamento Praia Alta Piranheira, em 1997.

Fazendo coro conivente com a parlamentar ruralista, alguns deputados vaiaram o deputado José Sarney Filho quando este leu no plenário da Câmara a chocante notícia das mortes destes camponeses. A nota da Comissão da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) para o serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, faz justiça aos assassinados, fornecendo-nos uma preciosidade, a saber, a declaração de José Cláudio, em um plenário de 400 pessoas reunidas para estudarem a qualidade de vida do planeta:

“Vivo da floresta, protejo ela de todo jeito, por isso vivo com a bala na cabeça a qualquer hora porque vou pra cima, eu denuncio. Quando vejo uma árvore em cima do caminhão indo pra serraria me dá uma dor. É como o cortejo fúnebre levando o ente mais querido que você tem, porque isso é vida pra mim que vivo na floresta e pra vocês também que vivem nos centros urbanos”.

Em média, por ano, 2.709 famílias são expulsas de suas terras pelo poder privado e 63 pessoas são assassinadas no campo brasileiro na luta por um pedaço de terra! 13.815 famílias são despejadas pelo Poder Judiciário e pelo Poder Executivo por meio de suas polícias! 422 pessoas são presas por lutar pela terra! 765 conflitos acontecem diretamente relacionados à luta pela terra! 92.290 famílias são envolvidas em conflitos por terra!

Carlos Walter Porto Gonçalves, professor do programa de pós-graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF), ao analisar anualmente os Cadernos de Conflitos no Campo da CPT, introduziu a preocupação com a geografia dos conflitos. Comparando e ponderando o número de conflitos com o número de habitantes na zona rural de cada estado, trouxe à tona a importante constatação de que o aumento da violência acontece em função do desenvolvimento do agronegócio.

A violência não acontece, pois, só nas áreas do atraso, acontece, sobretudo, nos centros mais progressistas do país. “A violência”, diz ele, “é mais intensa nos estados onde a dinâmica sociogeográfica está fortemente marcada pela influência da expansão dos modernos latifúndios (autodenominados agronegócio). É no Centro oeste e no Norte que as últimas fronteiras agrícolas são conquistadas às custas do sofrimento e do sangue dos trabalhadores e dos que os apóiam” ( Caderno da CPT, 2005, pág. 185).

Diz ele: “O agronegócio necessita permanentemente incorporar novas terras e para isso lança mão de todos os mecanismos de que dispõe: os de mercado, os políticos e a violência”. A violência é parte essencial da história dos pobres da terra: índios, negros, camponeses. Ela, por sua vez, é alimentada pela impunidade, fenômeno sócio-político conscientemente assimilado pela nossa instituição judiciária.

A CPT tem a famosa tabela dos assassinatos e julgamentos de 1985 a 2011:

Assassinatos: 1580.
Casos julgados: 91
Executores condenados: 73
Executores absolvidos: 51
Mandantes absolvidos: 7
Mandantes condenados: 21
Mandantes hoje presos: 1

Conclusão: de 1580 assassinados, só um mandante condenado se encontra na prisão! Essa é a medida da impunidade!

Encerrando esta análise da dupla violência do agronegócio, consubstanciada na violência contra a terra e na violência contra a pessoa humana, não posso deixar de destacar a contrapartida deste modelo, a saber, a nova busca do “cuidado” como lição que nos é dada pelos povos tradicionais. As comunidades indígenas vivem isto como algo que está profundamente entranhado na alma, leva-as a se entrosarem harmoniosamente com a Mãe Terra, a se entrosarem pessoas com pessoas, com a memória dos antepassados e com o próprio Deus.

A Terra, como se diz, está doente e ameaçada. Hoje, felizmente, vai se desenvolvendo a cultura ecológica que consiste no cuidado não só com o ser humano, mas com o planeta inteiro. O planeta não cuidado, como ensina Leonardo Boff, pode entrar num processo de enfermidade, diminuir a biosfera com conseqüências de que milhares vão desaparecer, não excluída a própria espécie humana.

Uma outra luz nos vem destes povos e de suas culturas. É o “bem viver”. É uma vida voltada para os valores humanos e espirituais e não presa às coisas, às riquezas, ao consumismo.

Na minha juventude, tive a chance de conviver com um grupo indígena, bem primitivo, no coração da Amazônia. Fiquei encantado ao descobrir, entre outras jóias, que, na língua deles, não existe o verbo TER. Um povo que vive feliz e que, no entanto, não acumula. Gente que faz do necessário o suficiente. A melhor prova desta felicidade está na constatação da alegria espontânea das crianças. Elas são o melhor espelho do povo.

*Dom Tomás Balduíno é assessor da Comissão Pastoral da Terra, teólogo e bispo dominicano.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Conferência Estadual - Reforma Política Já: o Mulheres de Fibra foi participar.

Por Daniela

Acabei de voltar da Assembléia Legislativa de SP onde aconteceu a Conferência Estadual da Comissão Especial da Reforma Política da Câmara dos Deputados, uma iniciativa da Frente Parlamentar Mista pela Reforma Política com Participação Popular.


A Frente, que já conta com a adesão de 182 deputados, 36 senadores e diversas associações da sociedade civil, é coordenada pela Deputada Federal Luiza Erundina e pelo Senador Rodrigo Rollemberg. Estabeleceu-se uma agenda para realizar encontros estaduais e ouvir os anseios e expectativas da sociedade civil organizada. Após duas tentativas frustradas de aprovação de reforma política no Congresso, a iniciativa deve ser comemorada e quem sabe assim, com a participação popular, os relatórios cheguem a um formato que será finalmente aprovado.

Todas as contribuições foram importantes, mas vamos ressaltar apenas algumas das que apoiamos, a maioria delas também foi mencionada como proposta da Frente Parlamentar Mista:
  • Não reduzir à reforma política - e seu debate - às questões eleitorais
  • Lutar pelo sistema proporcional com paridade de gênero
  • Financiamento público de campanha com fim do fundo partidário
  • Fidelidade partidária
  • Maior enfoque e criação de ferramentas e estratégias para promover uma democracia mais particiativa
  • Possibilitar maior exercício da soberania popular: plebiscitos e referendos para as questões de amplo interesse nacional e estratégico
Também destacamos a participação do representante do Movimento Negro Brasileiro (que pedimos perdão por não conseguir registrar seu nome) que estava coberto de razão ao lembrar que os 50, 7% da população brasileira, que são os afrodescendentes (IBGE, 2010), não estão devidamente representados no Congresso, assim como acontece com as mulheres, e que isso "não é apenas uma vergonha nacional, é uma vergonha perante o mundo. É urgente incluir a questão etnorracial no debate pela Reforma Política".


Também chamamos atenção, conforme frisado por Erundina e Ivan Valente, que a Fidelidade Partidária é um dos caminhos para o fortalecimento dos partidos no Brasil e que ela não deve apenas se dar do parlamentar para o partido, mas ser uma via de mão dupla: os partidos também têm de manter a coerência com seus programas para que seus políticos não sejam obrigados a apoiar alguma iniciativa que, a princípio, estaria fora do escopo e conteúdo programático do partido.

Outra proposta interessante levada por Ivan Valente foi, não apenas o financiamento público exclusivo, como também a criminalização - com pena de prisão - de doadores e receptores de investimento privado em eleições.

Lembramos, ainda, enquanto blogueiras e participantes do debate eleitoral, que uma das nossas maiores dificuldades era conversar sobre "democracia" com pessoas instruídas e esclarecidas. Uma das colocações que eu mais ouvia era: "democracia num país em que o voto é obrigatório? Você está de brincadeira comigo?". Realmente, o que eu podia dizer? Fazia meu melhor: "olha, muitas pessoas morreram e foram torturadas para que eu tenha agora o direito de votar, então eu me sinto no dever de votar sim, mas claro, o panorama ideal é que o voto seja um direito e não um dever."

Sendo assim, uma das bandeiras deste blog para a reforma política - e que não foi discutida nesta conferência - é o Fim do Voto Obrigatório no Brasil.

Como blogueiras progressistas acreditamos que seja preciso ampliar mais e mais a participação cidadã. Em primeiro lugar porque as pessoas não se sentem mais representadas nem pelos políticos/partidos, nem pela mídia e pela imprensa. Estas instituições, que deveriam ser os espaços do debate público por excelência estão por demais corrompidas para representarem de fato os interesses da população. Não é à toa que a cada dia mais e mais pessoas vão às ruas - e à esfera pública virtual - mostrar o que pensam, o que querem e o que não querem mais. E nós temos mesmo que fazer pressão para que esta reforma não se torne mais um instrumento de políticos lutando em causa própria e dos interesses econômicos que estão representando, com todo o apoio e "patrocínio" da velha mídia. Nós não podemos nos dar ao luxo de gastar mais de 7 bilhões para manter um congresso funcionando, pelo menos não da maneira como ele está funcionando agora.

Vamos participar, caro leitor. Vamos entrar neste debate público e fazer barulho. Vamos apoiar a Deputada Luiza Erundina, que nos dá provas sucessivas de que é possível votar em candidatos íntegros e realmente comprometidos com objetivos democráticos e nobres. Aproveito para registrar meu agradecimento e orgulho: estou sendo muito bem representada pela mulher de fibra em quem escolhi votar. Nem por isso vou deixar tudo em suas mãos, ao contrário, preciso ajudar a construir a base necessária para que ela tenha mais forças, possa lutar e ser bem sucedida em seu papel. Caro cidadão, nunca se esqueça de que a nossa participação não termina nas urnas.

Vamos em frente, ainda há muito o que se discutir, e que este processo possa acontecer de forma pacífica, que cada vez mais nossas instituições sejam sólidas e proporcionem condições para o fortalecimento da nossa democracia.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Mais uma Mulher de Fibra na Casa Civil.

É com prazer, orgulho e satisfação que postamos o primeiro pronunciamento de Gleisi Hoffmann, mais uma mulher de fibra que agora assume a Casa Civil.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Os ventos mudaram, mas nós não mudamos

Por Zé Dirceu
Dica do Blog de Marcelo Souza

O cenário político do país agora é outro. Tanto a mídia, quanto a oposição mudaram. Agora, dizem que a presidenta, Dilma Rousseff, não é mais independente de Lula e do PT, imagem que foi cultivada durante os primeiros cinco meses do ano.


A interpretação da ordem do dia é de que Lula e o PT interferem no Governo, por mais absurda que seja, já que Dilma foi eleita pelo PT e Lula foi seu principal apoiador.

O balanço da gestão, tão promissor há duas semanas, passou a ser ruim. Uma votação que não tem viés partidário ou de Governo, a do Código Florestal, polêmica por definição, transformou-se em grande prova da fragilidade do Governo Dilma.

O PMDB, que antes era atacado e rejeitado como aliado pela mídia e pela oposição, agora é instado a se rebelar, romper com o Planalto ou ocupar seu lugar. A pergunta é: qual é esse lugar? Nas páginas dos jornais, é o de governar no lugar da presidenta e do PT.

Também no campo econômico, antes, tudo era uma maravilha, a presidenta era elogiada pela disposição em fazer um ajuste fiscal, ainda que se lançassem dúvidas quanto à capacidade de atingir o objetivo de economizar R$117,9 bilhões em 2011.

Os resultados apareceram: queda da inflação, superávit de 4,5% no ano (49% da meta prevista de ajuste em apenas quatro meses!), crescimento mantido acima de 4%, perspectiva de criação de mais de 2,5 milhões de empregos, manutenção de programas sociais e criação de novos programas, como a Rede Cegonha, o Pronatec, e intensificação da luta contra a pobreza.

Mas, de repente, num piscar de olhos, tudo fica errado.

Problemas normais na construção de uma grande hidroelétrica como Belo Monte transformam-se, junto com a votação do Código Florestal, em sinal de crise.

A gritaria também tem se dado a respeito do kit anti-homofobia e um livro do MEC, que reconhece o modo de falar popular, mas que recebeu enxurrada de críticas em sua maioria de pessoas que não leram o livro por inteiro.

Em todos esses casos, o Governo Dilma tomou decisões corretas, assim como nas diretrizes propostas ao Código Florestal. A mídia esperava que o governo retrocedesse em tudo e insistiu no cenário de crise. Mas que crise é essa?

Governar com uma coalizão ampla como a nossa, a maior já costurada na história do país; consolidar a aliança estratégica com o PMDB; fazer as reformas política e tributária; manter a economia em crescimento.

Definitivamente, não são tarefas fáceis e nem as faremos sem tensões, vitórias e derrotas, avanços e recuos. Esse é o jogo normal e previsto da política.

Mas, se analisarmos cada caso, veremos que seguimos no caminho certo.

A política do Banco Central mudou, bem como a política cambial, porque o cenário internacional já não é o mesmo. Fizemos o certo ao não aceitarmos a anistia e a legislação estadual no caso do Código Florestal. Mantivemos o crescimento sem descuidar da inflação e das contas públicas.

Está claro que acabou a lua de mel. E fica a certeza: a mídia e a oposição não mudaram.
Sua natureza e seu DNA continuam os mesmos. Nós, tampouco, mudamos. Estamos na rota certa.
A presidenta, Dilma Rousseff, tomou em suas mãos as rédeas das obras da Copa do Mundo-2014 e determinou a concessão dos aeroportos. Abriu corretamente um dialogo direto com o PMDB na pessoa de seu vice, Michel Temer, e seguramente vai superar os problemas normais da relação entre dois grandes partidos.
Além disso, a chefe do Governo vai reorganizar a relação política com o Congresso Nacional e com os partidos aliados, retomando a nossa agenda e não a da oposição.
Na pauta estão o combate à pobreza, a reforma tributária, a política industrial, melhoras no SUS (Sistema Único de Saúde) e manutenção do crescimento com redução da pobreza.

Sem se abalar com a gritaria da mídia e da oposição, que estão em seu papel. A nós, resta cumprir o nosso papel, que é o de governar, e bem.

José Dirceu, 65, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT

Carta dos Blogueiros Progressistas do Rio de Janeiro

Carta dos Blogueiros Progressistas do Rio de Janeiro

Somos jovens, somos não tão jovens. Somos homens e mulheres, meninas e meninos. Temos todas as cores, todas as religiões, diferentes crenças ideológicas, mas apenas um compromisso: liberdade com justiça social. Somos centenas e não baixamos a cabeça para ninguém. Somos os blogueiros progressistas do estado do Rio de Janeiro.


No atual estágio da luta de classes, a blogosfera é uma trincheira fundamental na defesa dos trabalhadores contra a selvageria e crueldade do capitalismo. Nossos blogs tornaram-se ferramentas de grande utilidade nas batalhas cotidianas contra as mentiras contadas e recontadas diariamente pela velha mídia golpista. Milhares de blogs nascem a cada dia, como flores anunciando a primavera. A cada embuste desferido pelos tradicionais meios de comunicação, ganha força o ativismo nas redes sociais, temperado no fogo da luta!

Como na bela canção de Chico Science, percebemos que “nos organizando podemos desorganizar”. Seguiremos nessa toada enquanto a ditadura da mídia prosseguir obstruindo um debate político mais livre. Depois disso, outras frentes de batalha virão, porque a luta pela justiça social é eterna.

Nos dias 6 a 8 de maio deste ano, realizamos o I Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas do Rio de Janeiro. Com a presença de mais de 200 blogueiros de todo o estado (e vários de outras regiões do país) trocamos experiências, acumulamos debate, confraternizamo-nos alegremente, manifestamo-nos corajosamente em frente à sede da Rádio CBN - a rádio que troca a notícia –, e aprovamos a criação da Associação de Blogueiros do Estado do Rio de Janeiro (ABERJ).

Se você é blogueiro ou simpatizante da blogosfera e se indigna com a opressão midiática, então você é nosso companheiro.

Blogueiros Progressistas de todo o mundo, uni-vos!

Entre as propostas aprovadas na assembleia final do I Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas do Rio de Janeiro estão:

- Apoio a PEC da Banda Larga;
- Defesa da neutralidade da rede;
- Luta pela aprovação do Conselho Estadual de Comunicação;
- Criação do Marco regulatório da comunicação;
- Pela simplificação da regularização das rádios comunitárias;
- Criação da "Associação dos Blogueiros do estado do Rio de Janeiro - ABERJ";
- Criação de uma linha de publicidade pública para blogs;
- Defender a simplificação dos processos de legalização de rádios comunitários;
- Moção de solidariedade ao blogueiro Esmael Morais, do Paraná, perseguido pelo governo daquele estado;
- Moção de solidariedade ao blogueiro carioca Ricardo Gama, que sofreu um hediondo atentado, no Rio de Janeiro, provavelmente em virtude de suas denúncias políticas.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Jornalistas com deficit de letramento

Por Weden
do blog do Nassif


Diz o dito popular que médicos enterram seus erros. E os jornalistas os repercutem.

A falta de atenção e capacidade de compreensão do que diz o livro didático Por uma Vida Melhor, da editora Global, é indicativo de deficit de letramento entre jornalistas. Junte-se a problemas de leitura, interesses mercadológicos, ignorância científica, leviandade intelectual e oportunismo político.

São inúmeros os sintomas do deficit de letramento. Entre eles, dificuldade de relacionar textos (problemas com a intertextualidade), desatenção ao cotexto em que aparecem as sentenças e incapacidade de associar o texto ao contexto de enunciação - para não falar nas posições discursivas, mas isso é outra história.

O problema não é só encontrado no ensino básico. É comum que o deficit de letramento seja detectado também em outros níveis de escolaridade, mesmo entre aqueles que, em suas profissões, fazem largo uso da leitura e da escrita.

Linguistas já chamaram a atenção para o fato de que se estes jornalistas fossem submetidos ao PISA seriam reprovados.

Aqui a lista de jornalistas e intelectuais que precisam aprimorar sua leitura.

No caso deles, talvez não seja difícil.
____________

Clóvis Rossi (Folha de SP): atribuiu aos autores do livro "crimes linguisticos" e "argumentos delinquenciais". Fundamentou seus ataques a uma pequena passagem do livro. O capítulo não era tão grande para ele se abster da leitura. Uma das marcas do deficit de letramento é a incapacidade de fazer correlações cotextuais. Interpretou "demonstração linguistica" com "pregação linguística", o que não cabe a este ramo do saber.

Flávia Salme (IG): levou a escolas sua leitura equivocada do livro. Induziu alunos a se pronunciarem contra. No seu texto, confunde modalidade e registro com normas.

William Waack (Rede Globo): iniciou o programa Painel, da GloboNews, perguntando se é "certo ensinar errado". Tímido com a explicação de Maria Alice Setubal, professora convidada, pergunta :"Embarcamos numa furada?". Ela responde: "sim". Nem Afonso Romano o apoiou.

Mônica Waldvogel (Globo): a reportagem de abertura do programa Entre Aspas, por meio de um recorte descontextualizado do livro, induz os entrevistados a condenarem a obra, os autores e o MEC. Cala-se diante das intervenções de Cristóvão Tezza e Marcelino Freitas.

Jornalista do jornal O Globo (vários): as reportagens sobre o livro didático foram assinadas por vários jornalistas. Todos insistiram na tese - não confirmada - de que o livro contém "erros grosseiros de português".

Augusto Nunes (Veja): perseguiu a professora Heloísa Ramos, durante dias. A professora é consultora da revista Nova Escola, da própria Abril, a que serve o jornalista.

Reinaldo Azevedo (Veja): a partir de trechos soltos, confundiu demonstração linguistica com pregação política. Partidarizou o que é consenso no campo da linguistica internacional.

Merval Pereira (Globo): fez afirmações fora do escopo da obra: "o Ministério da Educação está estimulando os alunos brasileiros a cultivarem seus erros”. Não há passagem clara neste sentido no livro.

Carlos Alberto Sardenberg (Globo): chegou a afirmar que o livro defende o modo de falar do ex-presidente Lula. Não leu o livro.

A mea-culpa da Folha de São Paulo, no editorial "Os livro", não foi acompanhada do necessário pedido de desculpas aos autores da obra. A seu favor, deve-se frisar que o jornal publicou dois artigos que mostram que nem todos deixaram de se ater à obra para comentá-la. Ressalte-se aqui a honestidade intelectual de Hélio Schwartsman e de Thais Nicoleti de Camargo.

Quem mais criticou sem ler?

Marcos Vilaça (Presidente da Academia Brasileira de Letras). Caso gravíssimo. O presidente da instiuição responsável pela memória das letras no país sequer teve o cuidado de consultar a obra. Acreditou no que foi levado pelos jornalistas. Desacreditou a instituição.

Ruy Castro (Escritor). Ele não leu o livro e se indignou com o que não havia sido escrito na obra. O escritor vive da leitura de livros. Mas ele mesmo não deu o exemplo.

Evanildo Bechara (Gramático). Cometeu o erro mais grave de sua carreira acadêmica. Criticou autores sem ter lido o livro. Um gramático não pode desconhecer a necessidade de ler para emitir juízos.

Edgar Flexa Ribeiro (Educador). Ele também não leu o livro e emitiu opinião a partir de trechos descontextualizados. Envolvido com educação, deu um passo em falso e será cobrado por isso.

Cristóvão Buarque (Senador). Sem ler o livro, diz que a obra pode prejudicar alunos. Este é um caso bastante sintomático. Como sua bandeira é a Educação, poderia ter sido mais cuidadoso ou pelo menos ter lido o capítulo em que aparecem as citações da imprensa. Sem fundamentação na realidade do que estava escrito no livro, declarou: "Existe um risco de se criar duas formas de falar o português" (existem várias formas de falar português, até porque toda língua é constituída por dialetos, como fica claro nas diferenças entre o Português Europeu e o Português Brasileiro); "os estudantes da rede pública, ao adotar erros de concordância verbal como regra, não terão a menor chance de passar em um concurso" (o livro em nenhum momento diz isso); "Tem que se ter em mente uma questão fundamental: sotaque e regionalismos são uma coisa, a língua portuguesa é outra" (esta diferença é absurda do ponto de vista das ciências linguísticas").

Todos os personagens acima devem desculpas à professora Heloísa Ramos e à ONG Ação Educativa. Eles se deixaram levar pela cobertura da imprensa. Pode-se desculpá-los por isso, mas é bom que reflitam.

Considero que estamos diante de um novo caso Escola Base, e todos que não se retratarem terão ajudado a constituir um novo crime de imprensa.

A professora Heloísa Cerri Ramos foi atacada pelos blogs da Veja, que tentaram ridicularizá-la. Já a Ação Educativa, com 15 anos de existência, e inúmeros projetos de pesquisa no campo da educação*, além de ações como pontos de leitura, também foi caluniada sem direito á resposta.

Todos estes jornalistas e intelectuais citados apresentaram problemas graves de letramento. Recomenda-se que repensem o que disseram e tenham a humildade de consultar o capítulo, antes de emitir novas opiniões.

Além disso, um pedido de desculpas não faz mal a ninguém.
A educação brasileira agradece.
______

* A ONG é responsável, junto com o Instituto Paulo Montenegro, pelo Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional, pesquisa de acompanhamento permanente.

Diante dos problemas com os jornalistas, as estatísticas devem ter piorado.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Até a Soninha Cerra ficou indignada!

Por Daniela




Achei o vídeo na Maria Frô, no artigo: "Soninha Francine, este governo é teu, por que a surpresa?!"

Precisa comentar?

Leituras indispensáveis

Por Daniela

Felizmente o debate que se instaurou sobre o livro "Por uma vida melhor" conseguiu transcender o senso comum e a tendência à estagnação que não raro se verifica em relação a diversos temas que precisariam ser profundamente debatidos em sociedade. Na minha opinião o fato reflete a maturidade dos pesquisadores e professores da área que se posicionaram, dos escritores que se manifestaram, bem como da população que mostrou por meio de seus comentários em inúmeros blogs e sites que entende muito bem todas as entrelinhas dos discursos-armadilhas da grande imprensa.

Indico algumas leituras abaixo que julgo indispensáveis para quem se interessou pelo tema. Após os links, transcrevo, na íntegra, a Nota de Repúdio da Abralin - Associação Brasileira de Linguística - contra a cobertura tendenciosa da imprensa, que encontrei no Nassif, conforme link também abaixo.

Aproveito para agradecer a todas as pessoas de fibra que comentaram, e ajudaram a divulgar, o texto do Mulheres de Fibra. Acredito que a blogosfera deu mais um passo importante em direção à expansão da democracia.

A próxima etapa, como ressaltou a nota da Abralin, seria debater as reais questões que colocam obstáculos ao ensino da língua materna. Segundo a Associação: "entendemos que o ensino de língua materna não tem sido bem sucedido, mas isso não se deve às questões apontadas. Esse é um tópico que demandaria uma outra discussão muito mais profunda, que não cabe aqui.". Talvez esse seja um bom momento para iniciar essa discussão. E então, qual é o tipo de Educação que o Brasil precisa? Quais são mesmo os maiores empecilhos para a melhoria do ensino no País?

Links - leituras indispensáveis:

De Marcos Bagno, "POLÊMICA OU IGNORÂNCIA? DISCUSSÃO SOBRE LIVRO DIDÁTICO SÓ REVELA IGNORÂNCIA DA GRANDE IMPRENSA" http://marcosbagno.com.br/site/?page_id=745

De Lívia Perozim, "FALSA QUESTÃO" http://www.cartacapital.com.br/carta-na-escola/falsa-questao

De José de Souza Martins, "MESTIÇAGENS DA LÍNGUA PORTUGUESA", publicado no Aíás, Estadão (22.05.2011), e você pode ler no http://www.eagora.org.br/arquivo/mesticagens-da-lingua

No Blog do Mello entenda "Por que a Abril está soltando os cachorros em cima do Haddad com o livro 'Por uma vida melhor' " com o artigo de Alceu Nader, "AS EMRESAS NÃO TÊM IDEOLOGIA, TÊM NEGÓCIOS" http://blogdomello.blogspot.com/2011/05/por-que-abril-esta-soltando-os.html



Também com vídeo do programa Entre Aspas da Globo News, um artigo que está no Viomundo http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/livro-didatico-x-lingua-popular-escritores-riem-da-tese-da-velha-midia.html

Outra delícia de vídeo: http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1512976-7823-CONVIDADOS+DEBATEM+SOBRE+AS+POLEMICAS+DA+LINGUA+PORTUGUESA,00.html

Em algum lugar li um texto maravilhoso do Professor Sírio Possenti, mas não consegui localizá-lo novamente, se alguém tiver notícias, por favor me avise.

Agora, a Nota da Abralin, que você também pode ler no Nassif:  http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/abralin-divulga-nota-de-repudio

Língua e ignorância


Nas duas últimas semanas, o Brasil acompanhou uma discussão a respeito do livro didático Por uma vida melhor, da coleção Viver, aprender, distribuída pelo Programa Nacional do Livro Didático do MEC. Diante de posicionamentos virulentos externados na mídia, alguns até histéricos, a ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LINGUÍSTICA - ABRALIN - vê a necessidade de vir a público manifestar-se a respeito, no sentido de endossar o posicionamento dos linguistas, pouco ouvidos até o momento.

Curiosamente é de se estranhar esse procedimento, uma vez que seria de se esperar que estes fossem os primeiros a serem consultados em virtude da sua expertise. Para além disso, ainda, foram muito mal interpretados e mal lidos.

O fato que, inicialmente, chama a atenção foi que os críticos não tiveram sequer o cuidado de analisar o livro em questão mais atentamente. As críticas se pautaram sempre nas cinco ou seis linhas largamente citadas. Vale notar que o livro acata orientações dos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) em relação à concepção de língua/linguagem, orientações que já estão em andamento há mais de uma década. Além disso, não somente este, mas outros livros didáticos englobam a discussão da variação linguística com o intuito de ressaltar o papel e a importância da norma culta no mundo letrado. Portanto, em nenhum momento houve ou há a defesa de que a norma culta não deva ser ensinada. Ao contrário, entende-se que esse é o papel da escola, garantir o domínio da norma culta para o acesso efetivo aos bens culturais, ou seja, garantir o pleno exercício da cidadania. Esta é a única razão que justifica a existência de uma disciplina que ensine língua portuguesa a falantes nativos de português.

A linguística se constituiu como ciência há mais de um século. Como qualquer outra ciência, não trabalha com a dicotomia certo/errado. Independentemente da inegável repercussão política que isso possa ter, esse é o posicionamento científico. Esse trabalho investigativo permitiu aos linguistas elaborar outras constatações que constituem hoje material essencial para a descrição e explicação de qualquer língua humana.

Uma dessas constatações é o fato de que as línguas mudam no tempo, independentemente do nível de letramento de seus falantes, do avanço econômico e tecnológico de seu povo, do poder mais ou menos repressivo das Instituições. As línguas mudam. Isso não significa que ficam melhores ou piores. Elas simplesmente mudam. Formas linguísticas podem perder ou ganhar prestígio, podem desaparecer, novas formas podem ser criadas. Isso sempre foi assim. Podemos ressaltar que muitos dos usos hoje tão cultuados pelos puristas originaram-se do modo de falar de uma forma alegadamente inferior do Latim: exemplificando, as formas "noscum" e "voscum", estigmatizadas por volta do século III, por fazerem parte do chamado "latim vulgar", originaram respectivamente as formas "conosco" e "convosco".

Outra constatação que merece destaque é o fato de que as línguas variam num mesmo tempo, ou seja, qualquer língua (qualquer uma!) apresenta variedades que são deflagradas por fatores já bastante estudados, como as diferenças geográficas, sociais, etárias, dentre muitas outras. Por manter um posicionamento científico, a linguística não faz juízos de valor acerca dessas variedades, simplesmente as descreve. No entanto, os linguistas, pela sua experiência como cidadãos, sabem e divulgam isso amplamente, já desde o final da década de sessenta do século passado, que essas variedades podem ter maior ou menor prestígio. O prestígio das formas linguísticas está sempre relacionado ao prestígio que têm seus falantes nos diferentes estratos sociais. Por esse motivo, sabe-se que o descon hecimento da norma de prestígio, ou norma culta, pode limitar a ascensão social. Essa constatação fundamenta o posicionamento da linguística sobre o ensino da língua materna.

Independentemente da questão didático-pedagógica, a linguística demonstra que não há nenhum caos linguístico (há sempre regras reguladoras desses usos), que nenhuma língua já foi ou pode ser "corrompida" ou "assassinada", que nenhuma língua fica ameaçada quando faz empréstimos, etc. Independentemente da variedade que usa, qualquer falante fala segundo regras gramaticais estritas (a ampliação da noção de gramática também foi uma conquista científica). Os falantes do português brasileiro podem fazer o plural de "o livro" de duas maneiras: uma formal: os livros; outra informal: os livro. Mas certamente nunca se ouviu ninguém dizer "o livros". Assim também, de modo bastante generali zado, não se pronuncia mais o "r" final de verbos no infinitivo, mas não se deixa de pronunciar (não de forma generalizada, pelo menos) o "r" final de substantivos. Qualquer falante, culto ou não, pode dizer (e diz) "vou comprá" para "comprar", mas apenas algumas variedades diriam 'dô' para 'dor'. Estas últimas são estigmatizadas socialmente, porque remetem a falantes de baixa extração social ou de pouca escolaridade. No entanto, a variação da supressão do final do infinitivo é bastante corriqueira e não marcada socialmente. Demonstra-se, assim, que falamos obedecendo a regras. A escola precisa estar atenta a esse fato, porque precisa ensinar que, apesar de falarmos "vou comprá" precisamos escrever "vou comprar". E a linguística ao descrever esses fenômenos ajuda a entender melhor o funcionamento das línguas o que deve repercutir no processo de ensino.

Por outro lado, entendemos que o ensino de língua materna não tem sido bem sucedido, mas isso não se deve às questões apontadas. Esse é um tópico que demandaria uma outra discussão muito mais profunda, que não cabe aqui.

Por fim, é importante esclarecer que o uso de formas linguísticas de menor prestígio não é indício de ignorância ou de qualquer outro atributo que queiramos impingir aos que falam desse ou daquele modo. A ignorância não está ligada às formas de falar ou ao nível de letramento. Aliás, pudemos comprovar isso por meio desse debate que se instaurou em relação ao ensino de língua e à variedade linguística.

Maria José Foltran
Presidente da Abralin/Gestão UFPR 2009-2011