Acabei de voltar da Assembléia Legislativa de SP onde aconteceu a Conferência Estadual da Comissão Especial da Reforma Política da Câmara dos Deputados, uma iniciativa da Frente Parlamentar Mista pela Reforma Política com Participação Popular.
A Frente, que já conta com a adesão de 182 deputados, 36 senadores e diversas associações da sociedade civil, é coordenada pela Deputada Federal Luiza Erundina e pelo Senador Rodrigo Rollemberg. Estabeleceu-se uma agenda para realizar encontros estaduais e ouvir os anseios e expectativas da sociedade civil organizada. Após duas tentativas frustradas de aprovação de reforma política no Congresso, a iniciativa deve ser comemorada e quem sabe assim, com a participação popular, os relatórios cheguem a um formato que será finalmente aprovado.
Todas as contribuições foram importantes, mas vamos ressaltar apenas algumas das que apoiamos, a maioria delas também foi mencionada como proposta da Frente Parlamentar Mista:
- Não reduzir à reforma política - e seu debate - às questões eleitorais
- Lutar pelo sistema proporcional com paridade de gênero
- Financiamento público de campanha com fim do fundo partidário
- Fidelidade partidária
- Maior enfoque e criação de ferramentas e estratégias para promover uma democracia mais particiativa
- Possibilitar maior exercício da soberania popular: plebiscitos e referendos para as questões de amplo interesse nacional e estratégico
Também chamamos atenção, conforme frisado por Erundina e Ivan Valente, que a Fidelidade Partidária é um dos caminhos para o fortalecimento dos partidos no Brasil e que ela não deve apenas se dar do parlamentar para o partido, mas ser uma via de mão dupla: os partidos também têm de manter a coerência com seus programas para que seus políticos não sejam obrigados a apoiar alguma iniciativa que, a princípio, estaria fora do escopo e conteúdo programático do partido.
Outra proposta interessante levada por Ivan Valente foi, não apenas o financiamento público exclusivo, como também a criminalização - com pena de prisão - de doadores e receptores de investimento privado em eleições.
Lembramos, ainda, enquanto blogueiras e participantes do debate eleitoral, que uma das nossas maiores dificuldades era conversar sobre "democracia" com pessoas instruídas e esclarecidas. Uma das colocações que eu mais ouvia era: "democracia num país em que o voto é obrigatório? Você está de brincadeira comigo?". Realmente, o que eu podia dizer? Fazia meu melhor: "olha, muitas pessoas morreram e foram torturadas para que eu tenha agora o direito de votar, então eu me sinto no dever de votar sim, mas claro, o panorama ideal é que o voto seja um direito e não um dever."
Sendo assim, uma das bandeiras deste blog para a reforma política - e que não foi discutida nesta conferência - é o Fim do Voto Obrigatório no Brasil.
Como blogueiras progressistas acreditamos que seja preciso ampliar mais e mais a participação cidadã. Em primeiro lugar porque as pessoas não se sentem mais representadas nem pelos políticos/partidos, nem pela mídia e pela imprensa. Estas instituições, que deveriam ser os espaços do debate público por excelência estão por demais corrompidas para representarem de fato os interesses da população. Não é à toa que a cada dia mais e mais pessoas vão às ruas - e à esfera pública virtual - mostrar o que pensam, o que querem e o que não querem mais. E nós temos mesmo que fazer pressão para que esta reforma não se torne mais um instrumento de políticos lutando em causa própria e dos interesses econômicos que estão representando, com todo o apoio e "patrocínio" da velha mídia. Nós não podemos nos dar ao luxo de gastar mais de 7 bilhões para manter um congresso funcionando, pelo menos não da maneira como ele está funcionando agora.
Vamos participar, caro leitor. Vamos entrar neste debate público e fazer barulho. Vamos apoiar a Deputada Luiza Erundina, que nos dá provas sucessivas de que é possível votar em candidatos íntegros e realmente comprometidos com objetivos democráticos e nobres. Aproveito para registrar meu agradecimento e orgulho: estou sendo muito bem representada pela mulher de fibra em quem escolhi votar. Nem por isso vou deixar tudo em suas mãos, ao contrário, preciso ajudar a construir a base necessária para que ela tenha mais forças, possa lutar e ser bem sucedida em seu papel. Caro cidadão, nunca se esqueça de que a nossa participação não termina nas urnas.
Vamos em frente, ainda há muito o que se discutir, e que este processo possa acontecer de forma pacífica, que cada vez mais nossas instituições sejam sólidas e proporcionem condições para o fortalecimento da nossa democracia.
Pois discordo que o fim do voto obrigatório possa ser útil ao povo brasileiro, eis que o povo não tem cultura democrática. Ainda se pensa, entre o povo, que estamos em uma monarquia, em que tudo depende do(a) Presidente da República.
ResponderExcluirComo parte integrante da reforma política deveríamos ter a extinção do Senado, pois é uma casa revisora desnecessária, e precisamos ter uma equivalência de deputados em relação a cada grupo de eleitores estaduais. É desproporcional o número de deputados que representam vários estados do Norte e Nordeste (um artifício criado pela ditadura) quando comparado a estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, muito mais populosos.
A Lei da Ficha Limpa tem de prevalecer, condenado em qualquer vara, cível ou criminal, não poderia ser nem candidato. Já o voto distrital e o financiamento público de campanha são ilusões, uma "faca de dois legumes" para iludir o povo, e da mesma forma voto em lista. Seria a ditadura dos coronéis de partidos.
O que deve acabar também, e urgente, é o voto em cascata, ou o voto vinculado, que permite a um candidato de protesto, ou da piada, como Tiririca, eleja 3 ou 4 deputados federais que não alcançaram votos nem para se eleger como vereador em São Paulo.