quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O poder teocrático nas eleições presidenciais

Por Dalva Teodorescu


É estarrecedor ver os dois candidatos lambendo o eleitorado evangélico conservador.

José Serra está prevendo comparecer em alguns cultos evangélicos e Dilma Rousseff vai iniciar contato com lideranças religiosas. São apoios preciosissímos, certo, mas o preço parece muito caro.

Os dois candidatos têm tradição de compromisso com os valores da social democracia, um dos quais é contribuir para a elevação do espírito crítico dos eleitores, introduzir uma dose de iluminismo no debate sobre os problemas de sociedade e temas polêmicos, como o aborto.

É preciso que os candidatos esclareçam ao eleitor que a laicidade do Estado Brasileiro consta na constituição. Um estado laico garante a liberdade de culto de todas as religiões e liberdade de opinião daqueles que não têm religião.

É preciso fazer avançar a ideia que religião é uma convicção íntima e deve ser respeitada como tal.

As duas plataformas de campanha devem entrar num acordo para tratar o tema do aborto como uma questão de saúde pública e debatê-lo a partir desse ponto de vista convergente.

Todas as forças democráticas do país, entre elas a imprensa, deveriam estimular os candidatos a tomar essa direção.

É preciso esclarecer que quando se trata de trabalhar com a prevenção de riscos á saúde, em geral, o Ministério da Saúde não pode se prender à dogmas da igreja.

Ter opiniões convergentes sobre determinados temas ocorre com frequência nos países de democracia sólida, como na França. Não é o fim de mundo dois candidatos adversários, numa eleição difícil, estarem de acordo em certos temas.

Assumir posições comuns é francamente melhor do que ficar refém de grupos religiosos fanáticos.

É perigoso esse jogo de sedução pelos votos de setores os mais retrógados das igrejas evangélicas e da igreja católica.

Não é, francamente, democrático 80% do eleitorado brasileiro ficar refém de 20% que coloca a religião acima do “bem comum” que representa a vontade coletiva.

Um comentário:

  1. oi Dalva,

    além de uma ótima síntese, você está dando conselhos valiosos aos candidatos. Espero que eles reflitam sobre isso. Eu agradeço porque me coloco entre esses 80% de eleitores que querem ver o tema aborto tratado como se deve: como uma questão de saúde pública e não como uma questão moral. E tanto que o Minisrtro Temporão lutou pelo assunto e agora a gente vê o perigo de um retrocesso? Espero que tanto Dilma quanto Serra não se intimidem. Espero também que no próximo debate da Band, que promete um diálogo mais profundo entre os candidatos esse tema seja tratado como se deve. E mais, espero que esse debate tenha uma audiência maior que a dos anteriores.
    Daniela

    ResponderExcluir

Não publicamos comentários de anônimos. Registre seu nome no "escolher perfil" e no texto da sua mensagem. Não publicamos ofensas pessoais e palavras de baixo calão. Aguarde moderação da sua mensagem.