terça-feira, 22 de junho de 2010

Não a apologia da pobreza pelos candidatos

Por Dalva Teodorescu

Não é de hoje que a pobreza vale ouro para arrecadar votos. Só que o povo brasileiro evoluiu e não suporta mais ser tratado como idiota. Hoje José Serra e Marina Silva fazem apologia da pobreza para ganhar votos dos pobres. Que horror!

É constrangedor ver o candidato José Serra se apresentar como o Zé Serra, que nasceu numa casinha da Mooca, filho de um comerciante do Mercado Municipal. O candidato da elite bem representada por moradores do bairro Higienópolis quer se travestir em pobre para competir com o presidente metalúrgico.

Ainda hoje a Mooca possui setores habitados pela classe média alta de SP e francamente morar na Mooca na década de quarenta não era morar no Grajaú de hoje.

Também ser filho único de uma dona de casa e de um pai comerciante no mercado municipal na década de quarenta era quase signo de riqueza. Quem não se lembra, ainda na década de cinquenta, sessenta do dono do mercadinho do lado, tido como rico para muitos que ali compravam fiado para pagar no fim do mês.

O dono do mercadinho era rico aos olhos de muitos, cuja mãe e pai trabalhavam duro para que os filhos fizessem pelo menos o curso primário. Fazer o primário completo era para muitos filhos de operário um luxo. Ginásio em colégio público já era coisa para os filhos do dono do mercadinho. E colégio público era sinônimo de qualidade de ensino.

José Serra gozava do privilégio de ser filho único e estudar em colégio público. Entrou na Faculdade de engenharia na Politécnica. Se hoje entrar na politécnica é privilégio dos riquíssimos imagine na década de sessenta. E muito mérito para o José Serra e ele não precisa esconder isso para insistir no quadro do menino pobre.

Marina Silva também insiste na pobreza. Pior. Agora de mulher cabocla virou mulher negra e pobre. Marina tem uma grande bandeira que é a do meio ambiente não precisa fazer apologia da pobreza para ganhar voto. Ninguém aquenta mais a ladainha da alfabetização aos 16 anos, empregada doméstica, etc. A pobreza não classifica ninguém.

Marina deveria ter percebido que o filão da pobreza extrema já foi consumido com a eleição do Lula. Agora não tem mais espaço para o sofisma ‘eu nasci miserável logo eu sou credenciada para ser presidente’. Sofisma que Lula não precisou martelar porque se elegeu presidente como líder que levantou o movimento sindical do país em plena ditadura, não porque era pobre migrante nordestino.

Nesse ponto a candidata Dilma Rousseff esta dando banho de dignidade. Não esconde que estudou no colégio Sion e que vem de uma família de classe média. Sua competência dispensa a apologia da pobreza.

A pobreza não desmerece ninguém, mas também não enaltece. Nem é privilégio de alguns. A trajetória da Senadora Marina merece respeito, mas infelizmente não é uma história singular no nosso Brasil. Ao contrário, conheço muitas pessoas que tiveram a mesma história. O que o Brasil precisa agora é de uma presidente que lute para que os jovens e as crianças de hoje não tenha que contar essa mesma e antiga história de uma infância pobre e sem estudo.

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