quarta-feira, 20 de abril de 2011

Manhattan Connection desconectado da realidade brasileira

Por Dalva Teodorescu

Caio Blinder caiu na boca do mundo e quase causou uma crise diplomática ao fazer comentários desrespeitosos à rainha Rania da Jordânia e outras esposas de governantes árabes.

Caio se retratou e deu a mão à palmatória durante o programa e está de longe de ser o pior dos animadores do Manhattan Connection.

Como correspondente em Nova York da rádio Jovem Pan, Caio Blinder se mostra um jornalista sensato, ainda que nem sempre concorde com seus comentários. Por isso causou surpresa desconsiderar, em seu comentário, a estimativa de 15 a 20 milhões de descendentes árabes vivendo no Brasil, a maior parte em São Paulo.

Temos nossa tradicional e forte comunidade judia vivendo muito bem e pacificamente ao lado de nossa tradicional e forte comunidade sírio - libanesa. Ambas são influentes na economia, na literatura, na medicina, na política e em muitas outras áreas.

Perguntei-me, muitas vezes, o que fazia Caio no Manhattan Connection, programa totalmente deplacé situando-se entre o (mau) jornalismo e a celebração do esnobismo démodé. Mas quando vi em direto os comentários do jornalista me dei conta do quanto são moldados pela linha do programa.

Os jornalistas são autoritários e assertivos ao tecer seus pontos de vistas, sem considerar que muitos assinantes da Globo News podem não concordar com eles. Já era assim na época do Paulo Francis, com a diferença que não existia TV a cabo e o brasileiro não tinha acesso aos canais internacionais.

Além do mais, pretender fazer jornalismo com fatos do cotidiano brasileiro, dirigidos a brasileiros, a partir de Manhattan e de Veneza, sendo que alguns vivem há décadas de distância da realidade brasileira é mais que um despropósito, uma afronta.

Por ter vivido 22 anos fora do Brasil sei o quanto é difícil ter uma visão completa e analítica de fatos do cotidiano do país, por mais que se mantenha inteirado pela imprensa e, hoje, pelas redes sociais.

Diante dessa dificuldade, o resultado do programa na maior parte das vezes, se configura num fiasco. Sobra a pretensão, o esnobismo patético e o autoritarismo de opinião.

Lucas Mendes, Caio Blinder, Diogo Mainarde e Ricardo Amorim podem se sentir muito sabidos e felizes, mas o programa, na maior parte das vezes, se configura num fiasco. Sobra a pretensão e o autoritarismo de opinião.

Semanas atrás, Diogo Mainarde respondendo á uma pergunta de Lucas Mendes sobre a discussão do desarmamento, seguida à tragédia de realengo, não hesitou: “O Brasil é ridículo, por cauda dessa tragédia volta a esse assunto”.

Fiquei pasma com a grosseria e o autoritarismo. Mainarde tem todo o direito de se posicionar contra a discussão, mas tratar de ridículo quem pensa o contrário é abusivo e demonstra total falta de profissionalismo.

Depois de cair em desgraça junto a boa parte dos brasileiros, Mainarde agora parece querer ganhar pontinhos de humanidade com entrevista se dizendo “uma caricatura, uma brincadeira”. Nessa linha, se autodenominou “entreguista” por ter solicitado, e pago, um almoço a um cônsul americano: “Entreguista é assim mesmo entrega o país e paga o almoço”. Foi ele quem disse.

Esse blá blá é assim todo o programa. Coisa chata se não mostrasse também desinformação. Num desses programas Ricardo Amorim demonstrou total falta de Connection com a realidade brasileira, ao responder a Lucas Mendes se tinha conhecimento de favelas em processo de urbanização.

Amorim titubeou e respondeu que se tratava de favelas bairros, que queriam instalar no Rio de Janeiro, com postos de saúde e quadras de esportes e parou por aí.

Lucas Mendes do alto de sua torre de marfim de Manhattan ficou sem saber que a favela Heliópolis, situada na zona sul da cidade de São Paulo, está, há muito tempo passando pelo processo de urbanização.

Vários projetos são ali desenvolvidos, entre eles o do arquiteto e urbanista Ruy Ohtake de pintar fachadas de casas da favela. Além de equipamentos sociais como creches, postos de saúde, áreas de esportes, bancos, Heliópolis dispõem de uma orquestra regida pelo maestro Isaac Karabtchevsky.

Criada em 1986, com um grupo de 36 alunos da comunidade a Sinfônica hoje conta com mais de 80 músicos de todo o país, dando exemplo de promoção da diversidade cultural na prática de inclusão social.

Outro exemplo de urbanização de favela bem sucedido é o de Santa Marta no Rio de Janeiro. Primeira a ser inserida no Programa de Pacificação de Favelas, Santa Marta está se tornando um bairro, com vários equipamentos públicos funcionando. Foi modelo para as outras favelas do Programa e seus moradores costumam alugar as lajes de suas casas para turistas assitirem aos fogos de artício, em Copacabama, na passagem do ano.

São exemplos que poderiam dar conteúdo ao pobre comentário de Amorim, ou caso desconheça esses projetos, o mais honesto seria dizer que não tinha conhecimento de nenhum.

Também Caio Blibder deu mostra de autoritarismo ao defender o polêmico texto do ex presidente Fernando Henrique Cardoso. Com tom professoral explicou que FHC falava daquele povo que já teria sido cooptado pelo PT.

Me entrigou. Teria sido Caio Blinder cooptado pelo PSDB ao endossar tal ideia? Ou escolheu apoiar o partido de Higienópolis por ponderações críticas que só a consciência de cada um pode determinar.

E nós, classe média, médicos, arquitetos, sociólogos, engeinheiros e empresários que apreciamos um estilo de vida bem paulistano, saboreando um bom vinho com os amigos nos sábados de inverno, curtindo uma praia no verão, vendo Globo News e sonhamos com um mundo mais igual e mais justo para todos?

Teríamos sidos cooptados ou recebido benesses do governo trabalhista que, a nosso ver, tanto proporcinou ao Brasil e ao povo brasileiro? Não teriamos capacidade crítica para fazer essa escolha?

É uma pena que brasileiros como Luca Mendes e Caio Blinder não estejam assistindo às mudanças da sociedade brasileira, não somente em relação ao consumo, mas em relação à exigência dos direitos de cidadania. Como disse a presidenta Dilma Rousseff, hoje o povo brasileiro “não mais aceita políticas imperiais e certezas categóricas.

Sim existe muito a ser feito e boa parte dos trabalhadores brasileiros vivem em condiçoes mais que precárias em transporte, saúde, moradia e educação. Mas muito foi feito e o Prouni permitiu que milhares de jovens pobres acedessem à Universidade, em áres como medicina, engenharia e ciências sociais e contábeis. Não é pouco.

Hoje o nosso povo está mudando. As exigências dos trabalhores das grandes construtoras por melhores condições de trabalho e fornecimento de passagens àreas para visitar a família é apenas um exemplo.

As empregadas domésticas de antigamente, dormindo em cúbiculos, já quase não existem mais. É comum ver diaristas chegar ao trabalhar com seus carros, comprado de segunda mão mas seus, ou suas motos, vestidas cada vez mais como suas patroas. A globalização e uniformalização da moda é uma realidade que atinge todas as classes sociais.

Na TV, a irmã de um jovem que foi assassinado pela polícia, num cemitério de São Paulo, utilizava termos júridicos com destreza para explicar porque ia processar o Estado pela morte do irmão. Uma Prouni sem dúvida.

É essa a nova classe média que FHC e Calio Blinder querem cooptar. Mas se ela se recusar a ser coptada vão chamá-la de “povão e de massa mal informada, cooptada pelo PT”.

Manhattan Connexion, como o incosciente freudiano, não tem noção de tempo nem de espaço. Que tal descer do pedestal e começar a falar coisas inteligentes que interessam ao público brasileiro.

Nesse sentido Pedro Andrade mostrando eventos e curiosidades Novayorkinos faz mais sentido. Trás informações da cidade aos brasileiros, age como um correspondente, o que deveriam ser os comentaristas da polítia nacional.

Sinto dizer lhes que no momento que a pátria amada USA começa a entrar em decadência, o nosso Brasil está em ascensão e, nesse sentido, estão perdendo o bonde da história de nosso país. Uma pena.

Como dizia-se na época que sairam do Brasil: O Brasil que imaginam Já era.

Um comentário:

  1. Maravilha de reflexão. É lamentável, e até detestável ver aqueles sujeitos se denominarem brasileiros.

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