por Daniela
Dia dos professores. Estando em São Paulo, devo dar os parabéns ou os pêsames?
Eu realmente não entendo o que acontece.
Não conheço uma só pessoa que não tenha dito: "Educação é o grande problema do país". E ????
É o senso comum e argumento último dos comentaristas, jornalistas e até do cidadão comum. Todos de muito respeito. Diferentemente dos professores, que devem ter feito algo para merecer o tratamento que andaram recebendo em São Paulo do ex-governador José Serra.
E por que a velha mídia não divulga o que aconteceu de verdade com a Educação no Governo Serra em São Paulo? Só o que ouvimos ecoar é que "Serra é do Bem".
Até me lembrei de Álvaro de Campos, talvez o poema expresse bem o sentimento dos professores do estado atualmente: "nunca conheci alguém que tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. (...)Toda a gente que eu conheço e que fala comigo nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida... (...) Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo? Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?"
A velha mídia, a Igreja, algumas facções evangélicas... julgam, julgam, julgam. Quem atirou a primeira pedra? Não sei, mas quem está apanhando feio são os professores e, por tabela, infelizmente, as próximas gerações. Mas elas não dão votos...
Para a série "Recordar é Viver" desta semana, neste 15 de outubro, lembremos do que aconteceu com Jefferson Cabral, um policial civil que foi confundido com um professor e por isso apanhou por três horas seguidas.
Divulguem para quem reproduz o discurso da "Educação"... afinal, vamos combinar, dá pra falar que vota no Serra e ao mesmo tempo manter o discurso de que a Educação é a salvação do país? Só sendo muito mal informado...
Reproduzimos agora a entrevista com o policial feita em 2 de abril de 2010 . Colei do Blog do Azenha.
"Na sexta-feira passada, mais de 40 mil professores paulistas foram impedidos pela tropa de choque da Polícia Militar de chegar até o Palácio do Morumbi, sede do governo estadual, para apresentar suas reivindicações.
Na oportunidade, bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral, gás pimenta e muitas balas de borracha transformaram as imediações do Palácio em palco de uma batalha campal.
Sindicalista e policial civil, Jeferson Cabral foi confundido com um professor, mantido preso e espancado por cerca de três horas dentro de uma viatura até que foi levado ao 34ª DP de Francisco Morato. Com a roupa rasgada e acompanhado por dirigentes do Sindicato dos Investigadores de Polícia, Jeferson foi até a Corregedoria denunciar os inumeráveis abusos dos quais foi vítima.
Ainda mancando com problemas no joelho e dores por todo o corpo, Jefferson Cabral falou sobre os descaminhos do desgoverno tucano e da importância da unidade de todos os servidores com a comunidade para derrotar a intransigência.
Como você foi preso?
Eu estava junto com os manifestantes quando começaram a atirar bombas. Em meio às nuvens de gás, comecei a tirar as pessoas dali, socorrê-las, levar para um lugar seguro. Quando estava tirando o segundo não vi que estava muito próximo de um policial militar motociclista. Entre vários, conseguiram me prender. (Na foto da UOL, vê-se que o cacetete está dobrado em seu pescoço). Disse que era delegado sindical dos investigadores. Foi quando me disseram: você vai pagar pelos outros.
E depois disso?
Fui colocado algemado e trancado numa viatura da Polícia Militar. Fui hostilizado, ofendido e ameaçado durante três horas e tratado como bandido, com todo tipo de ofensas, impublicáveis.
Houve ameaça?
Diziam a todo tempo que iam me levar para o “esquisito”, que na gíria é um local ermo, onde você pode ser submetido a qualquer agressão pois não haverá ninguém para testemunhar. Diziam que iam acabar com a minha raça. As ameaças vieram de alguns policiais, desavisados, que me dominaram e não sabiam o que estava acontecendo, que havia um movimento lutando por direitos, reivindicando melhorias para toda a sociedade.
E então?
Foi quando trouxeram o comandante da operação, o coronel Veloso, que então se deu conta do tamanho do erro cometido. Me perguntaram se eu atirei pedras. Eu retirei paus e pedras das mãos de muitos, porque acredito que o nosso inimigo não é a polícia, mas o governo que a manipula para reprimir.
E aí, junto com os advogados do Sindicato, te dirigiste à Corregedoria para denunciar os abusos…
Exatamente. Fiz um Boletim de Ocorrência (nº98/10) e fui ao IML fazer o exame de corpo delito. Não consigo andar devido aos chutes que levei no joelho, na cabeça, costas e barriga.
Quando foste agredido desta forma?
Antes, durante e depois de algemado. O pior é que sou asmático e me deixaram um bom tempo com o cacetete vergado, como dá para ver pela foto, inclusive, quase sem respirar. Tive medo que me matassem.
Apesar da intensa brutalidade a que foste submetido, fizeste questão de estabelecer uma diferença entre o comportamento de meia dúzia de covardes e o grosso da corporação.
Antes de ser investigador de Polícia e delegado sindical em Taubaté, fui policial militar por quatro anos. Meu pai é policial militar. As agressões de que fui vítima, assim como uma boa parte dos manifestantes, foi provocada por indivíduos isolados.
Que estavam cumprindo ordens do governo Serra…
Infelizmente, sim. É uma grande pena e um verdadeiro tiro no pé essa orientação do governo porque muitos professores têm filhos que são policiais militares, têm o mesmo sangue. Acho que essa agressão deve servir para a PM refletir e se unir à comunidade.
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