quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Mais uma entrevista com Marilena Chauí

Por Daniela

Vou recortar dois trechos da fala da professora Marilena Chauí, para quem quiser ler a entrevista concedida ao Terra na íntegra é só clicar aqui. Vamos lá:

" (...) Como a senhora avalia a entrada de temas religiosos na campanha?


Marilena Chauí - Olha, esse discurso religioso foi uma maneira de desconversar. Ele não tem um projeto para o Brasil. Ele é a versão empobrecida do horror que foi Fernando Henrique Cardoso e, por falta de um projeto real para o Brasil, eles encontraram uma maneira de desconversar. Primeiro, foi "Dilma é guerrilheira". Não deu certo. Depois foi "Dilma e Erenice". Não deu certo. Agora é Dilma e o aborto. E ele, protetor da sociedade brasileira. É um escândalo, um escândalo. Sobretudo, o que eu acho mais grave, ele está fazendo essa operação através da TFP (Tradição, Família e Propriedade) e da Opus Dei. Nós temos uma pessoa que foi de esquerda, trazendo pela porta da frente aqueles que fizeram a ditadura no Brasil. Trazendo os produtores, os autores da ditadura brasileira. Trazendo pela porta da frente essa conversa religiosa. Isso é inadmissível. Isso é um escárnio. É tripudiar as nossas lutas. É tripudiar a memória. É tripudiar os mortos, os desaparecidos, os torturados. Isso é um escárnio, é um deboche!

(...)
 
A senhora sempre faz críticas às posições da imprensa. Como ela se comporta no processo eleitoral?


Eu sou crítica da mídia como um todo. Em primeiro lugar, o fato de ela ser um monopólio de quatro famílias e que identifique a liberdade de pensamento e de expressão com os lucros dessas famílias no mercado. É uma destruição da noção de liberdade de pensamento e de expressão. Eu tenho dito que aqueles que defendem, verdadeiramente, a liberdade de pensamento e de expressão têm como obrigação fazer a crítica da mídia e recusar a imposição que a mídia nos faz. E eu acho a coisa mais maravilhosa, mais perfeita, o que aconteceu com a (psicanalista) Maria Rita Kehl. Quer dizer, foi esse jornal, o Estado de S. Paulo, que iniciou a cruzada contra o "partido autoritário, totalitário, que impedia a liberdade de expressão". Ele encabeçou essa campanha. E na hora que Maria Rita Kehl escreve uma opinião que discorda da linha editorial do jornal, eles demitem a Maria Rita! Em nome do quê? Então, é preciso fazer a crítica."

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