quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Resposta ao Pondé por Rita Alves


Caríssimo, 

Seu artigo é uma catástrofe. Muito me espanta um homem com sua relevância midiática fazer uso de um precioso espaço para tantos absurdos num único artigo.

Por acaso você conhece - conhece mesmo, de fato, com profundidade e consistência - a história dos irmãos Villas Boas e o que dessa
 história temos como resultados humanitários, além, muito além dos resultados antropológicos?


Saberá o caro jornalista e filósofo que algumas etnias foram salvas de extinção e que junto com extinção de índios paralelamente há todo um contexto social, temas ligados diretamente a produção de soja em larga escala, gado, extração de minérios preciosos de modo ilícito, organizações internacionais que adquirem terras ameaçando nossa soberania...?

O jornalista extingue, com seu artigo infeliz o legado de Darcy Ribeiro, Claude Levi-Strauss, Marechal Rondon, além de uma cultura milenar, muito anterior a apropriação europeia do continente, de três mil anos. 

Saberá o amigo do que trata toda uma vida de pesquisa da antropóloga Betty Mindlin? Conhecerá o acervo fotográfico de Maureen Basilliat? Tudo jogado no lixo jornalístico escrito por você.

Terá também o jornalista e filósofo Pondé assistido à entrevista feita pelo psicanalista Jorge Forbes com o filósofo e pensador francês Luc Ferry, em que eles nos alertam para o fim das grandes revoluções e nos chamam a atenção para as pequenas revoluções feitas através das redes sociais, alterando comportamentos e rumos históricos?

Pois bem, depois de ler o seu artigo, concluo que você é a pessoa desinformada ou mal formada. E com o agravante de levantar a público algo seríssimo: você é um formador de opinião. 

Não assinei meu sobrenome como Guarani-Kayowa, no entanto, os que o fizeram conseguiram com este feito alertar as autoridades para a questão.

Cinismo absurdo pedir que os índios trabalhem. Você está novamente desinformado: eles trabalham. É a ÚNICA organização social que sempre funcionou, com respeito às diferenças, organização sim, em que cada um tem uma função no sentido de utilidade para o grupo; Afora as investidas civilizatórias de corrupção e vícios como álcool e fumo, além de prostituição, que acontecem com os índios justamente FORA das preciosas reservas. Não são reservas temáticas, meu caro. É reserva de terra. Para que pessoas com sua mentalidade não queiram empresariar o espaço. Para que dentro dessas reservas os verdadeiros donos de onde você e eu moramos possam exercitar o seu sagrado direito de liberdade e propriedade: cultura. Pagar impostos? Eles já pagaram com a vida, afinal, nós matamos centenas de milhares de índios em pouco mais de quinhentos anos. Pagaram também com muita terra, sendo excluídos de sua casa violentamente. 

O amigo também não saberá que nosso estado de São Paulo inaugurou o Parque Orlando Villas Boas, com projeto de museu/centro de formação criado por um dos mais relevantes e respeitados nomes de nossa arquitetura, Ruy Ohtake. Não saberá que a família Villas Boas tem mais de duas mil peças indígenas - algumas que já não existem por ações como a sua - e acervo fotográfico, filmes, etnologia e registros de troncos linguísticos, fonte para nossos cientistas e de todo o mundo? Também está desinformado de que museus de todo o planeta solicitam informações sobre o modo de vida dos índios, como exemplo de sociabilidade e comunhão. 

Bem, meu caro, vou fazer uso justamente da rede social para publicar este e-mail, solicitando a você uma RETRATAÇÃO PÚBLICA diante da nação envergonhada com seu texto.

Rita Alves - Membro Fundadora do Instituto Orlando Villas Boas
         
Rita Alves é historiadora, crítica literária, ensaísta e poeta. Veja seu blog: http://teladeletras.zip.net/ 
Aqui o artigo do "Filósofo": http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/1187356-guarani-kaiowa-de-boutique.shtml  

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Entrevista com Manuel Castells

Uma verdadeira aula de história contemporânea que dedicamos aos eleitores paulistanos: 

Programa "A vivir que son dos días" de Cadena Ser entrevista Manuel Castells


No cenário da crise europeia, as mobilizações nas ruas e redes sociais mostram que "as pessoas estão mudando sua forma de pensar (...) e sempre as sociedades se transformam quando as pessoas alteram sua forma de pensar e, a partir daí, se colocam em movimento". Seja todo(a) ouvidos:


domingo, 24 de junho de 2012

Na disputa Maluf X Erundina quem perdeu foi a cidade de São Paulo


São Paulo, eleições municipais 2012. A bola da vez é a velha e requentada novela sobre alianças políticas polêmicas. O coro: OH! Lula e Haddad na foto com Maluf! OH!

Quem mudou? Ninguém. Esse é o problema. São Paulo mudou muito pouco, politicamente falando, é claro.

O tipo político “rouba, mas faz” que Maluf herdou de Adhemar de Barros, que herdou de... que herdou... ainda vale muitos votos. É incrível, mas o Maluf ainda tem muitos eleitores por aqui. O Maluf não mudou.

O Lula, visivelmente, não está nada confortável com a situação. Ele não mudou só por causa de uma aliança polêmica a mais ou a menos. Talvez, em São Paulo, tenha desistido, mas não mudado. Diria que se curvou a São Paulo, que não muda seus votos e, afinal, as alianças servem para angariar votos. A forma de fazer política também não mudou.


A imprensa não mudou, continua dispersando o foco das questões que interessam de fato à população.

Erundina não mudou. Manteve a sua integridade e dignidade já habituais.

Os militantes do PT também não mudaram: insistem em defender uma estratégia de campanha que é um verdadeiro tiro no pé.

Divulgar Erundina como vice e Maluf como aliado, na mesma semana, é pôr a perder os votos de ambos. Claro, os eleitores de Erundina não têm uma boa imagem de Maluf e seus eleitores; e vice-versa. É uma questão de comunicação com seus públicos-alvos. Que planejamento de marketing tresloucado é esse? Na semana que ela deveria ser a estrela do momento vem seu “arquiinimigo” posar de companheiro na foto! 

Não era a hora mesmo de “malufar” a cena. Entendo perfeitamente a rejeição dos eleitores de Erundina que conhecem a história da cidade e do Brasil. Ela, que conhece os seus eleitores, sabe que eles iriam apoiar a sua retirada. Vejam quantos votos o PT vai perder... O problema não foi a aliança, mas o momento e a circunstância em que ela se deu. O problema foi a estratégia de campanha.

Assim, a campanha do PT em São Paulo também não mudou, continua fazendo gol contra. Assim como na disputa entre Marta e Kassab quando deu um tiro no pé que culminou na vitória do adversário ao questionar o seu estado civil, para citar a mais recente. Marta não teve nada a ver com a grosseria e pagou o pato por sua propaganda carregar um preconceito que ela própria não carrega. O poder que os candidatos/líderes dos partidos têm sobre a sua campanha não é tão decisivo quanto imaginamos.

Qualquer coisa por mais um minuto na televisão, por uns votos a mais... Que desespero do PT em São Paulo! Isso não podia dar certo. Tão previsível, não sei como não enxergaram isso. Uma pena, porque a dobradinha de um ministro da educação com uma ex-prefeita cuja prioridade era de fato a educação poderia quem sabe fazer São Paulo estudar história e aprender a votar...  

segunda-feira, 9 de abril de 2012

UMA REFLEXÃO SOBRE A PEC 215/00

Por Andrea Jakubaszko*

Do site da OPAN


“Um dia
a nossa pátria ó mãe tão distraída
sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações…”
Chico buarque de Holanda.

Ai, as emendas do Brasil
O contexto da votação da PEC 215/00 seria cômico se não fosse Trágico. Expressa o ‘jeitinho’ de uma nação, expert em fazer remendos constitucionais para atender a interesses privados.
Constituição - 1988:  momento único autenticamente democrático vivido pela Nação Brasil. Políssêmico. Plural.
O desrespeito extrapola os Povos Indígenas, Quilombolas, porque atinge acima de tudo a história de uma nação e sua capacidade de constituir suas leis, desqualifica os próprios poderes instaurados e representados por políticos que ainda deveriam merecer ser alvo de respeito (os constituintes) juntamente com os interesses públicos e seus não menos importantes representantes civis e a União.
Ainda que o atual e lamentável quorum de deputados que aí  figura – criaturas que não sabem nada de História, nada de Política, nada de Leis, nada do Brasil – politiqueiros que estão longe de ser Politikus - ao imaginarem que sabem o que fizeram, não imaginam: o que estão fazendo.
Responsabilizar a superpopulação mundial e o mercado chinês para justificar submeter toda uma Nação e seus múltiplos e diversos interesses ao retrocesso, configura, nesse caso limite, um Ato Legal de Terror. O Brasil já foi telespectador de muitos, mas tenebroso como esse parece ser sem precedentes. As derrotas somaram-se uma a uma, desde as condicionantes do STF pós demarcação Raposa Serra do Sol (RR), os zonementos ambientais estaduais, grandes obras e negociatas, código florestal e agora - o golpe final.
O que há por trás da PEC 215/00 ?
Fazer justiça aos latifúndios? Fazer justiça ao agronegócio? Fazer justiça à fome do mundo? Fazer justiça ao devido Progresso do Brasil? Havia me esquecido que o Brasil entende de Justiça Social como poucos.
A opnião pública(da) recorrentemente apoia-se em algumas ideias que precisam ser esclarecidas:
1)      Que Terras Indígenas, e a Amazônia de modo geral, configuram terras improdutivas.
2)      A velha ideia de que há muita Terra para pouco índio.
3)      Que Terra de Índio ameaça a soberania do território nacional.
O único e mais sério problema, pouco enunciado, é que os índios não têm nada a ver com tudo isso (até porque estão evidentemente invisíveis nessa malgrada transação) e no final, mais uma vez, devem pagar o pato!
AMAZÔNIA[1]
Terra        Povos       Matas       Água doce      Biodiversidade    Alimentos    Remédios   Saúde
Biopirataria
Ouro      Prata     Diamante
Garimpo
Fauna     Flora     Florestas
Venda ilegal de madeiras / tráfico ilegal de animais
Culturas       Conhecimentos       Técnicas       Saberes      Patrimônios
Tecnopirataria   /    Expoliação
Urânio      Petróleo      Bauxita
Imperialismo
Efetivamente o que está em questão não é o tamanho nem a produtividade de Terras Indígenas que, esclarecemos, correspondem a Terras da União – Tesouro e Patrimônio Nacional - incluindo os sistemas simbólicos (diversidade de culturas) que o alimentam e sustentam.  O que está em questão, portanto, é a capacidade dos cidadãos brasileiros em compreender esse cenário complexo e os diversos interesses em jogo.
Em nosso processo histórico de formação de uma identidade nacional, ainda que desde cedo, na escola, nos habituemos a declarar que a cultura brasileira é também fruto da herança indígena, raramente estamos predispostos a reconhecer e se identificar com essa herança. Apesar da pluralidade de culturas e línguas que configura o Brasil, reconhecido como um país pluriétnico e multicultural, parcelas significativas da população ainda se surpreendem ao descobrir a resistência e existência persistente das culturas indígenas, vivas e presentes no cenário nacional. A surpresa, comumente, vem acompanhada ainda pelo espanto de perceber que muito das práticas culturais tradicionais permanecem atuantes.
O curioso é que esse espanto revela, com freqüência, o sentimento que traduz o estranhamento dessa diferença e dessa persistência pelo sentido do exótico ou do arcaico. Incorporamos com extrema facilidade e leveza novidades tecnológicas, manifestações culturais e comportamentais de vários outros lugares do mundo e, no entanto, consideramos exótica (ou atrasada) a nossa própria tradição, suas raízes, fundamentos e territorialidades. Nos espelhamos cotidianamente nos países chamados de ‘primeiro mundo’, porém, esquecemos que o reconhecimento da tradição e o respeito ao seu patrimônio cultural, natural e histórico, articula um eixo vital de seus padrões de desenvolvimento.
Por essa razão, compreender o que significam estas Terras da União é extremamente importante para o nosso próprio reconhecimento, o reconhecimento de um nós tão caro à concretização de um sentimento de nação. Incorporar referenciais dados por estas nações nativas e seus saberes significa valorizar e legitimar nossas possibilidades históricas tanto no que se refere ao passado quanto no que diz respeito ao presente e ao futuro. Mais do que museus e arquivos, o Brasil ainda precisa caminhar muito na direção de conhecer e respeitar as tantas expressões, vivas e atuantes, que configuram a realidade do país e as potencialidades diversas de desenvolvimento que essas expressões sustentam. 
O caminho mais imediato para a internacionalização e a ameaça de soberania nacional é converter as Terras da União em propriedades privadas para cultivo de commodities e produção exógena tipo exportação. Nesse caso, interesses antinacionais sem dúvida serão vitoriosos. Esta é a Justiça Social defendida pela Câmara dos Deputados na defesa da PEC 215/00.
O nosso legislativo, em sua insana transgressão pode, desta vez, fazer eclodir aquilo que no Brasil sempre se manifestou de modo local e controlável pelo Estado – rebeliões civis. Caso esta PEC venha a ser futuramente aprovada pelo congresso nacional, com assombro, talvez vejamos enfim O Terror de uma Nação.
                                       “numa enchente amazônica,                                                                                                                    numa explosão atlântica,                                                                                                                  a multidão vendo em pânico,                                                                                                                         a multidão vendo atônita,   ainda que tarde,                                                                     o seu despertar”
Chico Buarque de Holanda
 Andrea Jakubaszko é antropóloga, Mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP e Membro do Conselho Diretor da OPAN - Operação Amazônia Nativa.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

PiG não é PiG porque denuncie a corrupção.

Do Maravilhoso Conversa Afiada

O sistema político brasileiro por definição é corrupto.

Não mais que o americano, o italiano, o russo ou o mexicano, por exemplo.
Mas, corrupto é.

Nos acima citados sistemas, a Caixa Dois, a sobra de campanha e a sujeição aos interesses dos financiadores são goiabada com queijo.

Uma das formas centrais do sistema político corrupto – como nos acima mencionados – é o acesso à televisão.

Tempo de tevê vale ouro – e voto.

E a manipulação do acesso à tevê é uma das causas do descrédito dos partidos e dos homens públicos nessas grandes democracias.

O noticiário político só faz equiparar a atividade público a reality show de ex-prostitutas.

Outra causa é a notória impunidade.

O sistema judicial torna-se cúmplice e parte de um sistema que se nutre de corrupção.

O financiamento público e uma Ley de Medios podem atenuar a penetração da corrupção no sistema político.

No Brasil, à parte a geneneralizada impunidade – que se acentuará com o fechamento do Conselho Nacional de Justiça pelo Supremo -, há um fenômeno que não se repete em nenhuma das citadas democracias.

É a concentração do PiG (*).

Três famílias – Marinho, Frias e Mesquita (by proxy) – , dominam a tevê, o rádio, o jornal, as revistas, as agências de notícias e portais na internet.

(A família Civita, expulsa da Argentina, no Brasil explora outro ramo de negócio, que não o jornalismo.)

Três famílias – duas em São Paulo e outra no Rio, a Globo, que, porém, trabalha para o IBOPE de São Paulo – dominam o conteúdo da informação e a agenda de debates de um país de 200 milhões de almas, com uma maravilhosa e suprimida diversidade cultural.

O papel central do PiG é derrubar os Governos trabalhistas, onde, apesar de todo o bom-pracismo dos governantes, os negócios empresariais do PiG enfrentam mais obstáculos.

Quando os Neolibelês (**) estiveram no Governo, o PiG sentava-se à mesa do banquete.

O PiG não é golpista porque denuncie a corrupção.

O PiG é golpista porque SÓ denuncia a corrupção dos trabalhistas.

Para o PiG, a massa cheirosa não rouba.

Nem roubou.

O PiG tem parte, tem lado, obedece a uma linha política, como o Ministro Gilmar Dantas (***): está sempre do lado de lá.

As denúncias de corrupção são apenas uma das faces do golpismo.

Outra é a fixação da agenda.

O PiG e o Congresso acabam por discutir só o que o PiG quiser.

O PiG determina a hierarquia: a ponte de 3,5 km sobre o rio Negro não tem menor importância.

Só teria se ficasse comprovado o esmagamento de um bagre na hora de fincar uma estaca.

Aí, sim, seria um Deus nos acuda.

Vamos sublimar, amigo navegante, a criminosa discriminação que o PiG pratica contra os atos dos governos trabalhistas.

Vamos por à parte o excepcional Governo do Nunca Dantes, aprovado por 80% da população.

Ou do Governo de sua sucessora, que segue a mesma trilha.

Vamos à Argentina.
Agora, com a acachapante vitória da Cristina, só agora se sabe que o maior eleitor foi a bonança econômica.
A Argentina bomba !
E aqui se tinha a impressão de que a Argentina era uma pocilga encravada na caverna do Ali Babá.

As atividades do PiG são, pela ordem, deturpar, omitir, mentir.

As denúncias de corrupção do PiG são bem-vidas, porém.

E devem servir de elemento para coibir o malfeito.

O problema é que no PiG se esvaecem como nuvens as denúncias de corrupção do outro lado: as ambulâncias superfaturadas; o Ricardo Sergio, o Preciado, o Paulo Preto, o Daniel Dantas, o Robanel dos Tunganos; a concorrência do metrô de São Paulo; o mensalão de Minas; a empresa de arapongagem do Cerra paga pelo contribuinte paulista; os anões do Orçamento da Assembléia tucana de Sao Paulo.

Tudo isso se lava com água e sabão vai embora pelo ralo.

E a corrupção da empresa privada ?

Os subornadores, os financiadores dos políticos ?

Quem compra os políticos ?

A Madre Superiora ?

Quem ganha todas as concorrências e não perde uma na Justiça ?

Quem são e o que fazem os que a Evita Peron chamava de “oligarcas de mierda ?”

Por que no Brasil não tem empresário ladrão ?

Nem rico na cadeia ?

É por isso que o PiG é golpista.

Porque é cúmplice, beneficiário e arauto dessa máfia do poder, como diz o Mino.

As denúncias de corrupção são a face branda quase pueril do PiG.
Vamos pegar o PiG pelo gancho: vamos fazer uma Ley de Medios.

Paulo Henrique Amorim

(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
(**) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.
(***) Clique aqui para ver como um eminente colonista do Globo se referiu a Ele. E aqui para ver como outra eminente colonista da GloboNews e da CBN se refere a Ele.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Lingerie

Do blog Championchip Chronicles

- Querido?

- Hum?

- Posso falar com você?

- Claro.

- Olha para mim?

- Pronto. Desculpe... Ei, nós vamos sair?

- Não, por quê?

- Então porque você está trocando de roupa?

- Não estou me trocando.

- Então porque você está só de calcinha e sutiã?

- Porque eu quero falar com você.

- Mas você precisava estar sem roupa?

- Sim.

- Você não está doente, está?

- Como assim?

- Você aparece aqui quase sem roupa e dizendo que precisa conversar. É sinal que eu vou ter que apalpar algo. Não é câncer de mama, né? Você sentiu algum caroço?

- Não é nada disso!

- Ok, mas você precisa concorda comigo. Eu apareço na cozinha vestindo cuecas e dizendo que preciso conversar com você. Aposto que você ia pensar na mesma hora que era sobre aquele meu joelho bichado.

- Não. Eu iria achar sexy.

- Oi?

- Sim, eu acharia sexy. Você não me acha sexy com esse lingerie?

- Acho. Essa calcinha fica bem em você. Era isso?

- Não. Eu quero contar uma coisa.

- Diga.

- Eu bati o carro hoje.

- Pelo amor de Deus! Quando? Você está bem?

- Mas não foi nada grave... Só arranhou a porta lá na entrada do prédio.

- Quando foi isso? Você se machucou?

- Não, não. Eu estou bem, só me assustei um pouco.

- Mas quando foi isso?

- Foi agora, quando cheguei, faz uma meia hora.

- Mas não está doendo nada? Tem certeza? Quer ir ao hospital?

- Não, estou bem. Pode ficar tranquilo.

- Mas por que você não me avisou? Você entrou em casa, me deu oi, saiu e voltou de novo!

- Então, é porque eu fui até essa loja comprar a lingerie.

- Oi?

- Sim, esta que estou usando.

- Essa calcinha é nova?

- Sim.

- Espere. Deixe eu entender. Você bateu o carro, entrou em casa, e não falou nada. Saiu, foi comprar uma calcinha, voltou, vestiu e decidiu falar sobre o carro?

- Isso.

- Maristela, você está bem?

- Claro. Eu já disse, não machucou.

- Não, não é isso. Você não poderia ter entrado em casa e falado “arranhei a pintura do carro, mas estou indo ali comprar uma calcinha e já volto”?

- É que eu queria estar sexy para você.

- Por causa do carro?

- Sim.

- Mas não tem porque ficar bonita para isso!

- Eu queria.

- Você não bateu a cabeça quando bateu o carro? É normal ficar um pouco desorientada...

- Claro que não! Estou ótima!

- Mas por que você quis ficar sexy para me contar que a porta do carro está amassada?

- Ai, Alfredo... Vem cá para perto...

- Para de esfregar as mãos nos seios! O que você está fazendo?

- Você não gosta?

- Claro que gosto, mas você acabou de bater o carro! Não faz sentido. Bater o carro te excita?

- Claro que não!

- Porque você está estranha.

- Ai Alfredo... Estou apenas seduzindo você.

- Mas e o carro? Você não está nem aí?

- Não, e você?

- Não, eu fiquei aliviado por que você não se machucou. Mas fiquei aliviado, e não morrendo de tesão.

- Ai, Alfredo... Você é tão devagar...

- Tem certeza que isso não te excita? Eu vi um filme uma vez...

- Chega, Alfredo.

- É sério. As pessoas se excitavam com porrada de carros...

- Desisto.

- Você não é assim, é? Teve aquela vez que eu dei ré e enfiei o carro num poste e você não ficou assim. Se ralar a pintura deixou você acesa desse jeito, aquela vez deveria ter deixado você em ponto de bala. Foi uma baita pancada.

- Como você é grosso, Alfredo!

- Não, eu só não entendo a lógica da coisa. Você bate o carro e vem aqui de lingerie me contar. A gente vai comemorar?

- Ai, Alfredo, esquece!

- Não, eu quero saber. É como se fosse um aniversário de casamento? Esta é a nossa primeira porta amassada do casamento, então você coloca uma calcinha nova, vamos abrir uma champagne... É isso?

- Esquece!

- Não, senhora! Quero saber de onde você tirou essa ideia!

- Não. Vou para o quarto colocar uma calça.

- Primeiro, responde. De onde você tirou essa ideia?

- Eu vi na TV, ok?

- Quê?

- Vi uma propaganda que diz que a lingerie sexy ajudar a contar notícias ruins para o marido.

- Oi?

- É. É isso. Pronto, falei! E você cortou o clima!

- Sério, Maristela... Eu não fiquei bravo porque você bateu o carro, eu fiquei preocupado com você. O carro que se foda. Pára de alisar a barriga e fazer biquinho!

- Esquece, Alfredo. Você é insensível demais!

- Não tem lógica! Quer dizer que se eu perder o emprego, tudo o que preciso fazer é entrar em casa, tirar a roupa e ficar usando uma cueca nova para te contar a novidade?

- Eu vou para o quarto!

- Isso. Eu vou descer para ver o carro e você vai colocar uma roupa.

- Pode apostar que eu vou! Você nunca mais vai me ver de lingerie!

- Para de gritar, Maristela. O que é isso? Essa nota aqui?

- Que nota?

- Maristela, você pagou oitenta paus nessa calcinha!

- Não é calcinha, é lingerie!

- Oitenta reais? Nisso aí?

- Sim! Porque eu queria que você não se magoasse com o carro!

- Eu não me magoei! Mas oitenta reais!? Com oitenta reais eu compro cuecas para uns dez anos! E ainda pego umas meias!

- Alfredo, você é um insensível mesmo.

- Não importa! Oitenta reais?

- Eu queria que você não ficasse bravo com o carro!

- Não estou bravo com o carro, mas sim com você pagar oitenta reais numa calcinha!

- Não é calcinha! É lingerie!

- Você que vai pagar a funilaria desse carro, Maristela!
 

A loira burra da revista época

Do blog Amigos do Presidente Lula

A colunista Ruth Aquino, em artigo da Revista Época (PIG/RJ), tornou-se a piada pronta da "loira burra" (*) em pessoa, ao entender errado a "piada".

A piada (de mau gosto), no caso, é o anúncio de lingerie retratando Giselle Bundchen como uma espécie de... Loira burra!

E a loira burra da Revista Época, achou o anúncio "divertido", leve, maroto! (nas palavras dela).

A loira burra da Revista Época não entendeu que a propaganda é machista quando chama indiretamente as mulheres de "barbeiras" no trânsito, ao colocar Giselle como culpada de pegar o carro do "seu homem" e batê-lo.

A loira burra da Revista Época não entendeu que a propaganda é machista quando retrata a mulher como se seu papel fosse só de consumidora voraz, estourando o cartão de crédito do "seu homem".

A loira burra da Revista Época não entendeu que a propaganda é machista quando faz apologia da figura da mulher submissa sexualmente, que não seduz por desejo próprio, natural, e sim por necessidade de "acalmar seu homem".

A loira burra da Revista Época não entendeu que, por mais que a propaganda tente recorrer ao humor, a piada é machista, de mau gosto para a imagem da mulher bem resolvida do século XXI.

A loura burra da Revista Época entendeu errado, que seria o fato de Giselle aparecer de lingerie é que faria o anúncio retratar a mulher como objeto sexual. Ela até contra-argumenta que homens "sarados" também aparecem sem camisa ou semi-nus em novelas, e nem por isso alguém protesta.

Ora, a crítica não é ao uso da sensualidade, nem é quanto a aparecer de lingerie. Toda propaganda de lingerie mostra mulheres de lingerie, muitas bem mais ousadas, sem qualquer protesto. E esta da Giselle é até "careta", bem-comportada no tamanho das peças e sem cenas provocantes.

As críticas são dirigidas ao roteiro do comercial, ao vincular o uso da sensualidade e sedução ao medo, à submissão, ao estereótipo da mulher inepta para dirigir um carro e as finanças, só servindo para deleite sexual do "macho".

O êxtase da burrice na coluna dela é a "teoria inversa". Eis o que ela escreveu:

"Que tal uma teoria inversa? O anúncio na verdade mostraria o homem como objeto de manipulação das mulheres e não o contrário. O homem é um tolo que cai de quatro para o poder da sedução feminina. Em vez de macho fulo de raiva com o cartão de crédito estourado, o carro batido e a vinda da sogra, o marido invisível se submete, dócil, ao charme de sua mulher."

A "teoria inversa" seria boa, se retratasse Giselle usando o poder da sedução feminina para comemorar uma vitória dela, como ter ganho um prêmio, assinado um contrato profissional de sucesso ou de compra da casa própria para o casal pagar; passar em um concurso difícil; valeria até contar que ganhou na loteria, ou ousar colocando-a pedindo o homem em casamento, mas nunca retratar a mulher numa situação de medo para não sofrer consequências.

Que tal aprofundarmos a "teoria inversa" da loira burra da Revista Época?

Se a mulher não exercer seu "poder da sedução feminina" quais seriam as consequências para ela diante do "macho fulo de raiva" (nas palavras da loira burra da revista Época)? Justificaria a violência doméstica? Só restaria recorrer à lei Maria da Penha? E, ainda por cima, a culpa seria da mulher porque não fez o "certo" da propaganda, que diz ser contar más notícias vestida de lingerie?

E no trabalho? Como a mulher se livra de uma situação de grosseria ou assédio moral, diante de algo que deu errado? Exigindo respeito ou "usando seu charme"?

Pois é... pela mesma "teoria inversa", esses exemplos são alguns dos efeitos colaterais ao espalhar esse tipo de idéia na propaganda "marota". Dissemina os piores instintos na cultura da sociedade.

Outro argumento da colunista digno de "loira burra" é dizer:

"o governo recebeu 15 – quinze! – queixas de telespectadores indignados com a publicidade. Uma multidão. Por isso, a ministra Iriny Lopes foi à luta contra a lingerie incorreta.

A loira burra da Revista Época não entendeu duas coisas básicas:

1) basta olhar na internet as reações ao anúncio, para constatar que não são apenas "15 telespectadores indignados" que acham a propaganda ruim.

2) bastaria uma única queixa racional e bem fundamentada, para a Secretaria de Políticas das Mulheres entender que fazia sentido reclamar ao CONAR (Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária), órgão que sequer é estatal, é do próprio mercado publicitário. E que o CONAR existe para isso: quem não gosta, reclama. Todo mundo tem o direito de reclamar, inclusive um órgão de governo representativo da sociedade.

Poderia me estender mais nas críticas sobre o artigo da colunista, mas deixa pra lá... Será que adianta explicar mais? Será que a loira burra da Revista Época entenderia?

Em tempo: (*) Loura burra, aqui, só se refere à colunista da Revista Época, nada tendo a ver com as demais louras inteligentes, inclusive a própria Giselle Bundchen que, na vida real, mostra-se bem mais inteligente e vitoriosa do que a personagem roteirizada na propaganda (provavelmente feita por um publicitário homem e machista).